Livro de Salmos


I.   O Título e Vários Nomes
1.  O moderno título desse livro do Antigo Testamento vem do grego psalmós, que indica um cântico para ser cantado com o acompanhamento de algum instrumento de cordas, como a harpa. O verbo grego psallein significa «tanger». A Septuaginta dizPsalmoi como o título do livro. E é da Septuaginta que se deriva nosso título moderno do livro. A Vulgata Latina diz, como titulo, Liber Psalmorum.
2.   Titulo hebraico antigo do livro era Tehillim, «cânticos de louvor». Esse título refletia o principal conteúdo dessa coletânea em geral. Mas vários outros vocábulos hebraicos introduzem salmos específicos, a saber: Shir, «cântico» (29 salmos). Mizmor, «melodia», «salmo» (57 salmos); essa palavra subentende o tanger de algum instrumento de cordas, pelo que é similar ao termo grego psalmós. Sir Hammolot, «cânticos dos degraus» (Sal. 120 a 134), que eram cânticos entoados por peregrinos que subiam a Jerusalém para celebrar as festividades religiosas. Mikíam, cujo sentido exato se perdeu, embora haja nas composições envolvidas a idéia de lamentações e expiação (Sal. 16, 56-40). Maskil, «instrução», que são salmos didáticos (Sal. 74, 78 e 79). Siggayon, também de significado duvidoso, mas talvez uma palavra relacionada ao termo hebraico saga, «dar uma guinada», «girar», referindo-se a um tipo de música agitada (Sal. 7). Tepilla, «oração», referindo-se a alguma composição poética entoada como uma oração ou petição (Sal. 142). Toda, «agradecimento», Le annot, «aflição». Hazkir, «comemorar» ou «lembrança», como no caso de um pecado cometido (Sal. 38 e 70). Yedutum, «confissão» (Sal. 39, 62 e 77). Lammed, «ensinar» (Sal. 60).Menasseah, «diretor musical» (55 salmos). Yonat elem rehoqim, que diz respeito a alguma «pomba» (deve estar em foco algum tipo de sacrifício). Ayyelet hassahar, «corça do alvorecer» (estando em foco algum sacrifício). Sosannim, «lírios» (Sal. 60, 65 e 69), talvez uma referência ao uso de flores em cortejos nos quais eram entoados salmos. Neginot, uma referência a instrumentos musicais que sem dúvida acompanhavam o cântico de salmos (Sal. 6,54,55 e 67). Sela, «elevar», talvez uma direção para que se elevasse a voz, em algum tipo de bênção ou vozes responsivas (39 salmos). Nehilot, «flautas», uma referência ao acompanhamento do cântico de salmos por meio desse instrumento de sopro.
A complexidade desses títulos reflete tanto a própria complexidade da coletânea quanto o seu variegado uso em conexão com a devoção privada e com a adoração púbica, especialmente aquele tipo que era acompanhado por música.
II.   Caracterização Geral
«O livro de Salmos, tradicionalmente atribuído a Davi, é uma antologia de cânticos e poemas sagrados dos hebreus. Aparece na terceira seção do Antigo Testamento, chamada os Escritos (no hebraico, Ketubim). A palavra salmos é de origem grega e denota o som de algum instrumento de cordas. Seu nome, em hebraico, é tehillim, ‘louvores’. Os temas dos salmos envolvem não somente louvores ao Senhor, mas também alegria e tristeza pessoais, redenção nacional, festividades e eventos históricos. O seu fervor religioso e poder literário têm conferido a essa coletânea uma profunda influência através dos séculos, e não menos no mundo cristão».
«Tem havido intensa disputa entre os eruditos acerca da antigüidade e autoria desses salmos, e acerca de sua conexão com o rei Davi. Provavelmente foram compostos durante um período bíblico de mil anos ou mesmo mais. Dentre os cento e cinqüenta salmos, setenta e três têm, no seu título, as palavras «de Davi»; e muitos deles foram compostos na primeira pessoa do singular. Alguns desses, ou porções dos mesmos, parecem ser de data posterior à do reinado de Davi. Entretanto, o cotejo com outras peças poéticas religiosas do Oriente Próximo e Médio da mesma época geral sugere que alguns dos poemas atribuídos a Davi datam, realmente, do tempo dele. Sem importar o que os especialistas digam, é apenas natural que a crença popular tenha atribuído a obra inteira ao maior dos reis de Israel, um poeta e músico que se sentia cm íntima comunhão com Deus» .
Os salmos reverberam as mais profundas experiências e necessidades do coração humano, e assim exercem uma atração permanente sobre as pessoas de todas as religiões. Incorporaram o que havia de melhor nas formas poéticas dos hebreus, tendo-asdesenvolvido, e eram acompanhados por um surpreendente desenvolvimento musical, com freqüência usado para acompanhar a recitação dos salmos na adoração formal de Israel.
Tem-se tomado comum aos eruditos liberais aludirem aos salmos como «o hinário do segundo templo», o que serve de uma boa descrição. Contudo, não há nenhuma razão constrangedora que nos force a duvidar de que pelo menos muitos dos salmos, bem como a música que os acompanhava, já faziam parte da liturgia do primeiro templo de Jerusalém. Ver a terceira seção, intitulada Ideias dos Críticos e Refutações, quanto aos argumentos pró e contra acerca da data e da compilação dessa coletânea de hinos e poemas. Esse hinário do segundo templo contém muitos elementos antigos que correspondem ao que se conhece sobre a poesia antiga de outras culturas, e não somente da cultura hebréia; e isso favorece a antigüidade pelos menos de uma parcela razoável da coletânea.
Seja como for, a fé religiosa viva resplandece através desses hinos e poemas. O Saltério é o hinário do antigo povo de Israel; e, posteriormente, veio a ser o livro veterotestamentário mais constantemente citado no Novo Testamento. Os primeiros hinários cristãos, em vários idiomas, incorporaram muitos dos salmos, que então foram musicados. Sob o primeiro ponto, temos dado indicações sobre os muitos tipos de salmos que compõem a coletânea, e, nas seções quinta e sexta, ilustramos essa questão um pouco mais.Os principais tipos de salmos são os de louvor, lamentação, confissão, júbilo, triunfo, agradecimento, salmos reais, imprecações contra os inimigos, história sagrada, sabedoria, liturgias, cânticos festivos. O livro de Salmos reflete muitos aspectos da vida religiosa e das aspirações do antigo povo de Israel, e é dotado de profunda beleza e percepção espiritual, o que tem feito do livro uma parte imortal da literatura religiosa.
III.  Ideias dos Críticos e Refutações
Apesar de todos os homens louvarem os salmos, nem todos pensam que eles foram autenticamente compostos por Davi e produzidos naquele antigo período da história. Talvez a maioria dos eruditos modernos veja os salmos como uma série de coletâneas que terminou unida em uma única grande coletânea, embora a totalidade tivesse sido composta e desenvolvida no processo de um longo tempo.
Alistamos os principais pontos de vista dos críticos, juntamente com as refutações às suas críticas:
1.    O uso do termo hebraico le levanta uma questão de interpretação. Essa palavra pode significar «por», envolvendo assim a ideia de autoria. Porém, também pode ter o sentido de «pertencente a», não requerendo assim a ideia de que determinados salmos foram compostos peto indivíduo que aparece no titulo. Onze salmos presumivelmente são atribuídos aos filhos de Coré, mas essa palavra hebraica aparece nos títulos introdutórios. No entanto, o trecho de II Crô. 20.19 mostra-nos que esses homens formavam uma guilda de cantores do templo, após o  exílio. Não é provável que eles tenham, verdadeiramente, composto os salmos que lhes são atribuídos; antes, esse grupo de salmos foi selecionado por eles (provavelmente procedentes de diferentes autores), e os cantores os usavam em seu trabalho.
Resposta. Apesar de ser verdade que o vocábulo hebraico em questão pode envolver o sentido de «pertencente a», e que, de fato, em certos casos assim deve ser entendido, também é verdade que tal termo pode significar «por», indicando a autoria. E se havia uma guilda musical dos filhos de Coré, que existiu depois do exílio babilónico, é também provável que essa guilda já existisse desde tempos mais antigos, e que os seus descendentes é que foram mencionados em II Crônicas. Ver na Enciclopédia sobre Coré; Coate c Coatitas. A passagem de I Crô. 6.31 ss. fornece-nos os nomes daqueles que Davi nomeou para ocuparem-se da música sacra, e os filhos de Coré estavam entre eles. Ver o vs. 38. «Quando da reorganização instituída por Davi, os coatitas ocuparam certa variedade de ofícios, incluindo um papel na música executada no templo».
2. Os títulos dos salmos não eram originais, e sem dúvida contêm muitos desejos piedosos, não informações históricas autênticas.
Resposta. É verdade que as tradições tendem por adicionar toda espécie de material não histórico, mas também podemos estar tratando com anotações e observações verdadeiramente antigas dotadas de valor histórico, pelo menos no que se aplica à maioria dos salmos. A baixa crítica (estudo do texto dos manuscritos antigos) arma-nos de um constante testemunho em favor desses títulos. Todavia, este último argumento não é muito definitivo, visto que todos os manuscritos que temos dos Salmos são tão posteriores que se toma impossível fazer qualquer afirmação quanto ao valor histórico dos títulos, meramente por se encontrarem em todos os manuscritos conhecidos. Todos os manuscritos conhecidos do livro de Salmos são de data relativamente recente.
3.   Setenta e quatro dos salmos são atribuídos a Davi, mas entre eles manifesta-se uma grande variedade de estilo, expressão e sintaxe, mostrando que dificilmente eles foram compostos por um único autor.
Resposta. Esse tipo de argumento só pode ter peso se também for exatamente detalhado quais problemas estão envolvidos. Argumenta-se que são achados aramaísmos nos salmos de Davi. Os eruditos conservadores dizem que isso poderia ter ocorrido durante o processo de transmissão dos textos. Questões assim só podem ser tentativamente resolvidas por eruditos no hebraico. Entretanto, todos os autores são, parcialmente, compiladores, pelo que é possível que Davi, embora poeta de alto gabarito, algumas vezes tenha incorporado composições não de sua autoria, em seus poemas. Além disso, é possível que vários dos chamados salmos de Davi não fossem de sua autoria, embora esse reparo não caiba à grande massa deles. Salmos anônimos provavelmente também foram atribuídos a Davi, visto que ele foi o principal para a coletânea. No Novo Testamento, certos salmos são atribuídos a Davi, embora os títulos do Antigo Testamento não digam tais coisas. Isso pode ter sido instância do que acabamos de asseverar. Não há necessidade de nos empenharmos pela autoria davídica desses salmos. Mas precisamos defender o  conjunto dos salmos de Davi. Quanto a observações neotestamentárias, ver Atos 4.25 e Heb. 4.7. O trecho de 1  Crô. 16.8-36 contém porções dos Salmos 96, 105 e 106, e parece atribuí-los a Davi, ao passo que, no próprio livro de Salmos, eles figuram como anônimos. E no tocante a Heb. 4.7, alguns estudiosos argumentam que esse versículo não precisa ser interpretado com o sentido de que a autoria davídica está em pauta, pois estariam em foco apenas as questões do uso de ideias e o cuidado na prestação de ações de graças.
4. Muitas coletâneas, incorporadas naquilo que finalmente veio a ser o Saltério, provavelmente indicam um processo muito prolongado. Assim, apesar de alguns dos salmos terem sido de autoria davídica, a maior parte não o é, e a compilação final ocorreu após o exílio babilónico.
Resposta. Na primeira seção, acima, ficou demonstrado que, de fato, muitos dos títulos dos salmos sugerem fontes múltiplas, muito mais complexas do que se dizer que Davi e alguns outros, como Asafe, Salomão, os filhos de Coré etc., nos legaram os salmos. Todos os bons hinários são como antologias de hinos adicionados através dos séculos. Porém, o reconhecimento desse fato não anula a ideia de que Davi foi o principal e mais volumoso contribuinte, e que outros salmos, como os de Asafe, também pertencem, autenticamente, à época de Davi. Ver a quinta seção, abaixo, quanto à complexidade de fontes que aparentemente estão por trás do livro de Salmos. Parece que precisamos admitir que o livro de Salmos recebeu contribuições da parte de muitos, ao longo de um prolongado tempo. Contudo, isso não anula o antigo âmago do livro, especialmente aquela porção que pertence autenticamente a Davi.
5.Os títulos davidicos relacionam os salmos a certos eventos da vida de Davi, mas a leitura desses salmos envolvidos revela-nos que o seu conteúdo nada tem que ver com o que aqueles títulos dizem.
Resposta. É admirável que as mesmas evidências possam ser interpretadas de modos diferentes, tudo dependendo de como os intérpretes aparentemente queiram distorcer a questão. Alguns eruditos liberais admitem nada menos de dezoito salmos como de autoria autenticamente davídica; mas outros desses mesmos eruditos não podem achar um único salmo que seja tão antigo que possa ser atribuído a Davi. Na quarta seção, Autoria e Datas, apresentamos um estudo sobre esses salmos que parecem refletir circunstâncias verdadeiras da vida de Davi. E consideramos isso adequado para demonstrar a presença de genuínos salmos davidicos no livro de Salmos, mesmo que isso não possa ser aplicado a todos os setenta e quatro salmos a ele atribuídos.
6.   Apesar de poder ser demonstrado que alguns dos salmos contêm elementos antiquíssimos, que mostram afinidade com a poesia norte-cananéia (como aquela que foi encontrada em Ras Shamra; ver na Enciclopédia a respeito) ou com os antigos textos babilónicos, pode-se interpretar melhor esse ponto supondo-se que antigos elementos tivessem sido incorporados, e não que todos os salmos fossem verdadeiramente antigos. Por outra parte, pode-se mostrar que material literário semelhante aos salmos era bastante comum em tempos pré-exílicos, segundo se vê em Osé. 6.1-3; Isa. 2.2-4; 38.10-20; Jer. 14.7-   9; Hab. 3.1 ss.; I Crô. 16.8-36. O mesmo sucedeu em tempos pós-exílicos, conforme se vê em Esd. 9.5-15 e Nee. 9.6-39. Com base nas evidências, podemos afirmar que essa forma de composição escrita era encontrada em várias colunas antigas, e isso cobrindo um período de tempo muito longo.
7.  O guerreiro Davi poderia ter sido o autor desses monumentos de espiritualidade? Infelizmente é verdade que, em muitas ocasiões, Davi agiu como um puro selvagem. Mas ele viveu em tempos extremamente violentos, e precisou usar da violência a fim de sobreviver. Ficamos desconsolados ao ler os relatos de matanças insensatas que ocorreram em seus dias. Davi desejou construir o templo de Jerusalém; e o profeta Natã encorajou-o a fazê-lo. Mas, pouco depois, o Espírito de Deus mostrou a Natã que Davi não era a pessoa indicada para a obra, devido à sua trajetória sanguinária. E assim a tarefa foi transferida para Salomão, um dos filhos de Davi. O relato acha-se no sétimo capítulo de II Samuel. O trecho de I Sam. 27.8 ss registra o incrível incidente no qual Davi e seus homens executaram todos os homens, mulheres, crianças e até animais, meramente a fim de engodarem a Aquis, fazendo-o pensar que era contra Judá que Davi tinha agido. Isso Davi fez a fim de fortalecer a sua posição diante daquele monarca pagão, quando exilado no território dele. Davi queria que Aquis pensasse que a sua inimizade contra seu próprio povo israelita era tão grande que ele nunca mais seria uma ameaça para os vizinhos de Israel. Ora, um homem assim tão brutal poderia ter composto uma poesia tão sublime? Diante dessa indagação, relembramos o leitor de que os poemas homéricos, uma literatura de insuperável beleza e técnica, foram escritos dentro do contexto de matanças e ameaças de morte. Tem havido grandes poemas de fundo belicoso, com também soberba prosa. De fato, as guerras têm inspirado muitas grandiosas peças de literatura, além de notáveis produções teatrais. Também devemos considerar que Davi, embora tivesse vivido em tempos selvagens, também tinha outro lado em sua personalidade, o lado de uma profunda devoção ao Senhor. Isso fica claro nos livros de I e II Samuel, I e II Reis, além de várias outras referências a Davi, espalhadas pela Bíblia. Outrossim, a habilidade de Davi como poeta e músico já era proverbial em seus próprios dias. Os trechos de I Crô. 6.31ss. e 16.8-36 fornecem-nos indicações a esse respeito. Finalmente, cumpre-nos considerar a natureza do próprio ser humano, um misto de nobreza e vileza, em uma mesma criatura. O sétimo capítulo da epístola aos Romanos elabora esse ponto. Até Adolfo Hitler gostava de cães! A passagem de Amós 6.5 mostra quão grande era a reputação de Davi como músico e poeta (ver também II Sam. 1.17 ss.; 3.33 ss.), a qual continuou a ser notória mesmo séculos depois de sua morte. A Bíblia chega a revelar que Davi inventou instrumentos musicais. O Cântico de Moisés (Êxo. 15) e o Cântico de Débora (Juí. 5) mostram que a poesia dos hebreus era muito antiga e muito bem desenvolvida. Não há nenhuma razão em supormos que o templo original de Jerusalém não contasse com música e poesia dessa qualidade altamente desenvolvida. Não há nenhuma dúvida razoável acerca do papel desempenhado por Davi em tudo isso, a despeito de sua natureza belicosa, e, com frequência, violenta.
8.  Pode-se explicar melhor os salmos como composições que giraram em tomo de tempos pós-exílicos e isso por várias razões, algumas das quais foram descritas acima. A música e a liturgia elaborada servem de outro fator de uma data posterior. Porém, contra isso, além dos argumentos que já foram expostos, deveríamos observar que os Manuscritos do Mar Morto  já continham muito material proveniente dos Salmos, e isso evidencia que os Salmos já haviam sido escritos em um período histórico anterior ao daquele em que foram produzidos os rolos do mar Morto. Todavia, essa resposta não nos faria retroceder até os dias de Davi, mas somente até um tempo anterior ao tempo dos Macabeus. No entanto, o argumento é sugestivo, mesmo que não conclusivo.
9.  A esperança messiânica é por demais pronunciada no livro de Salmos para que essas composições sejam consideradas saídas da pena de Davi. Historicamente, essa esperança ajusta-se melhor ao período dos Macabeus, sendo similar ao material dos livros pseudepígrafos, no tocante aos anseios dos judeus pelo aparecimento de um Libertador. Uma posição mais radical é aquela que diz que nada semelhante ao Messias cristão está em foco, mas tão-somente a figura de um Rei-Salvador, como aquela que foi concebida no tempo dos Macabeus.
Resposta. Contra essa ideia, deve-se observar que desde tempos bem antigos na história de Israel esperava-se um Messias (ver Deu. 18.15). Isaías (750 a .C.) também reflete essa forte ênfase messiânica, conforme é claro para todos os que estudam a Bíblia, e isso certamente é anterior, e em muito, ao período pós-exílico. Ademais, afirmar que os antigos hebreus não poderiam ter tido a esperança messiânica é apenas uma opinião subjetiva. Podemos opinar subjetivamente que os hebreus poderiam ter tido tal esperança. Além disso, há indicações, extraídas da própria história da literatura bíblica, que mostram que o tipo de esperança messiânica davídica é mais antigo que a esperança refletida nos livros pseudepígrafos. O fato é que o livro de I Enoque contém uma esperança messiânica muito mais refinada e muito mais parecida com a do Novo Testamento do que aquela que transparece no livro de Salmos, refletindo um estágio posterior desse ensino. O artigo sobre I Enoque na Enciclopédia certamente demonstra que, quanto a esse aspecto, I Enoque está mais próximo do Novo Testamento do que o livro de Salmos. Quanto a pormenores sobre a esperança messiânica no livro de Salmos, ver a seção VII abaixo, que se dedica a esse assunto. Finalmente, no tocante a essa questão, precisamos relembrar dois itens incomuns e místicos que sempre acompanham as culturas humanas, antigas e modernas; o poder de curar e o de prever o futuro. Visto que o Messias brotou dentre o povo de Israel, não há nenhuma razão em supormos que a sua vinda não pudesse ter sido percebida com muita antecedência. Mas o contra- argumento mais definitivo aqui é que o próprio Jesus Cristo ensinou a natureza messiânica dos Salmos; «…importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos» (Luc. 24.44).
10.   A música e a liturgia elaborada, refletida no livro de Salmos, falam sobre uma época posterior à de Davi, ou seja, a época do segundo templo, terminado o exílio babilónico.
Resposta. Não há razão para crer que uma elaborada situação músico-litúrgica não se caracterizava no primeiro templo. O trecho de I Crô. 6.31 ss. certamente ensina que, desde bem cedo, o aspecto musical de fé religiosa ocupava um largo espaço na religião dos hebreus. As observações musicais, existentes nos títulos dos salmos, referem-se a três elementos: instrumentos musicais, melodias utilizadas, vozes e efeitos musicais. Nada há nesses elementos que necessariamente pertença a tempos posteriores aos de Davi, embora, como é óbvio e como ninguém pretende negar, tudo isso tenha sido sujeitado a um progressivo desenvolvimento e elaboração. Nos tempos pós-exílicos havia guildas de músicos, como a dos filhos de Coré (ver
II   Crô. 20.19); mas esse trecho mostra que essa família formava uma antiga guilda musical, desde os tempos do primeiro templo de Jerusalém.
Observações Gerais sobre o Conflito: Críticos Versus Conservadores. Temos dado um sumário bastante detalhado do debate que ruge entre estas duas facções de estudiosos. Opino que não há como solucionar todos os problemas envolvidos, visto que cada teoria tem sua contrateoria. Parece-me que a solução desses problemas só poderia partir de especialistas no idioma e na cultura dos hebreus, os quais, além disso, fossem técnicos no estudo dos próprios Salmos. E isso, como é óbvio, está acima da maioria dos eruditos do Antigo Testamento, para nada dizer sobre os leitores comuns. Controvérsias dessa natureza têm alguns elementos positivos, especialmente se forçam pessoas interessadas a estudar os livros da Bíblia em profundidade. Quanto ao seu lado negativo, essas controvérsias podem ser prejudiciais ao espírito da fé religiosa, dando maior ênfase à contenda do que à espiritualidade. A fim de ilustrar essa declaração, o leitor pode meditar sobre o fato de que uma de minhas fontes informativas (uma respeitável enciclopédia) desperdiça espaço desproporcionalmente grande sobre estas questões controvertidas, ao mesmo tempo que dedica muito pouco espaço à mensagem e ao valor dos salmos, como uma colêtanea sagrada. Certas pessoas (em sentido positivo ou em sentido negativo) gostam de debate, e acima de todas as coisas, elas debatem. E óbvio que isso é um exagero, que só pode ser prejudicial para a espiritualidade. Assim sendo, que debatamos, mas que o façamos sem hostilidade e exageros. Quando o amortransforma-se em ódio teológico, então eu me despeço e vou-me embora.
IV.   Autoria e Datas
Quanto a esta particularidade, precisamos depender essen-cialmente dos informes dados nos títulos de introdução aos Salmos. Se dependermos somente desses títulos, obteremos o seguinte quadro:
Setenta e quatro salmos são atribuídos a Davi; dois a Salomão (Sal. 72 e 127); um a um sábio de nome Hemã (Sal. 88); um a um sábio chamado Etã (Sal. 89; quanto a esse, ver I Reis 4.31); um a Moisés (Sal. 90); vinte e três aos cantores levíticos de Asafe (Sal. 50; 73-83); vários aos filhos de Coré (Sal. 42, 43, 44-49, 84, 85, 87). Os quarenta e nove salmos restantes são anônimos.
Os informes existentes nos salmos subentendem que várias guildas musicais ou escreveram ou utilizaram os salmos. Quanto a uma exposição mais completa a respeito, ver a quinta seção da Introdução.
Várias Compilações e Fontes Informativas. Os eruditos conservadores contentam-se em confiar no valor histórico desses informes. Os eruditos liberais, por outra parte, têm achado pouco ou nenhum valor nessas informações. R. H. Pfeiffer considera-os «totalmente irrelevantes». Mas, se os estudiosos conservadores estão com a razão, então a maior parte dos salmos foi composta nos dias do Davi. E, se os liberais estão certos, podemos pensar em um desenvolvimento gradual da coletânea,a começar por Davi, com uma compilação final nos tempos pós-exílicos. Na terceira seção, ventilamos os argumentos e os contra-argumentos que circundam a questão. Não se pode duvidar que desde antes de Davi havia uma literatura similar à dos salmos, que tem paralelo em várias culturas da época. Penso que nada de fatal pode ser dito acerca do possível valor dos pontos dos salmos, mesmo que não cheguemos a ponto de canonizar esses títulos juntamente com o texto, dependendo estupidamente de qualquer coisa que esses títulos digam.
Os argumentos que cercam a palavra hebraica le («por» ou «pertencente a»?) não podem anular a antiga autoria davídica, mas, em alguns casos, podem apontar para os processos de seleção e compilação, e não exatamente autoria. Ver III. 1. A baixa crítica (que trata do texto dos manuscritos) favorece uma data definitiva, pois todos os manuscritos que chegaram até nós são de origem relativamente recente, e não se sabe quando foram acrescentadas as composições poéticas. Podemos conjecturar com segurança, porém, que esses títulos são posteriores à época de Davi, embora possam estar alicerçados sobre sólidas tradições históricas. Em caso negativo, precisamos depender do conteúdo dos salmos que refletem situações diversas na vida de Davi, e não dos títulos propriamente ditos. Muitos eruditos conservadores têm preferido esse argumento, apresentando assim um caso que merece respeito.
Salmos que Parecem Redefinir Situações Genuínas na Vida de Davi: Catorze dos salmos refletem motivos específicos de sua composição. Dependo aqui das informações supridas por Z. A ordem de apresentação é cronológica, e não numérica.
O Salmo 59 foi ocasionado pelo incidente registrado em I Sam. 19.11, e projeta luz sobre o caráter de certos associados invejosos de Davi (59.12).
O Salmo 56 mostra como o temor que Davi sentiu em Gate (ver I Sam: 21.10), acabou transmudando-se em fé (56.12).
O Salmo 38 ilumina as demonstrações de bondade subsequentes, da parte do Senhor Deus (38.6-8, cf. I Sam. 21.13).
O Salmo 142, à luz da perseguição descrita em seu sexto versículo, sugere as experiências de Davi na caverna de Adulão (cf. I Sam. 22.1), e não em En-Gedi (ver sobre o Salmo 57, mais abaixo).
O Salmo 52 (cf. o vs. 3) enfatiza a iniquidade de Saul, como superior de Doegue, que foi o carrasco executor dos sacerdotes (cf. I Sam. 22.9).
O Salmo 54 (cf. o vs. 3) impreca julgamento contra os zifeus (cf. I Sam. 23.13).
O Salmo 57 envolve a caverna de En-Gedi, quando Saul foi apanhado na própria armadilha que havia armado (57.6; cf. 1 Sam. 24.1).
O Salmo 7 apresenta-nos Cuxe, o caluniador benjamita (7.3), ao mesmo tempo em que o oitavo versículo desse mesmo salmo corresponde a I Sam. 24.11,12.
O Salmo 18 é repetido na íntegra em II Sam. 22; cronologicamente, deveria ter sido posto em II Sam. 7.1.
O Salmo 60 (cf. o vs. 10) ilumina a perigosa campanha militar contra os idumeus (ver II Sam 3.13,14; I Crô. 18.12), também referida em I Reis 11.15.
O Salmo 51 elabora o pecado de Davi com Bate-Seba e contra Urias (ver II Sam. 12.13,14).
O Salmo 3 retrata (cf. o vs. 5) a fé que Davi demonstrou ter, ao tempo da revolta de Absalão (cf. II Sam. 15.16).
O Salmo 63 lança luz sobre a fuga de Davi para o Oriente nessa ocasião (cf. II Sam. 16.2), pois, em suas fugas anteriores, ele ainda não subira ao trono de Israel (ver Sal. 63.11).
O Salmo 30 alude ao pecado de orgulho de Davi, devido ao poder do seu exército (ver os vss. 5, 6; cf. II Sam. 24.2), antes da perturbação que perdurou pouco tempo (cf. II Sam. 24.13-17; I Crô. 21.11-17). A isso seguiu-se o seu arrependimento e a dedicação do altar e da casa (a área sagrada do templo; I Crô. 22:1) de Yahweh.
Entre os salmos restantes cujos títulos determinam a sua autoria, os vinte e três salmos compostos pelos cantores de Israel exibem panos de fundo inteiramente diferentes uns dos outros, visto que aqueles clãs levíticos continuaram em atividade durante e após os tempos do exílio babilónico (ver Esd. 2.41). A maior parte desses vinte e três salmos pertence aos dias de Davi ou de Salomão. Todavia, o Salmo 83 ajusta-se dentro do ministério do asafita Jaaziel, ou seja, em tomo do 852 a.C. (cf. os vss. 5-8 com II Crô. 20.1,2,14), ao passo que os Salmos 74, 79 e as estrofes finais dos Salmos 88 e 89 foram compostos por descendentes de Asafe e de Coré que, ao que tudo indica, sobreviveram à destruição de Jerusalém, em 586 a.C. (ver Sal. 74.3,8,9; 79.1; 89.44). Entre os salmos sem títulos ou anônimos, alguns poucos são oriundos do tempo do exílio babilônico (Sal. 137), do tempo do retomo dos judeus a Judá, em 537 a.C. (Sal. 107.2,3    e 126.1), ou da reconstrução das muralhas, sob a liderança de Neemias, em 444 a.C. (Sal. 147.13). Outros salmos, que refletem momentos trágicos, facilmente poderiam estar vinculados às desordens provocadas pela revolta de Absalão, ou então a certas calamidades que se abateram sobre Davi (cf. Sal. 102.13,22, 106.41-47). R. Laird Harris recomenda que se use de grande cautela na crítica a respeito das datas de determinados salmos, escrevendo: «É de regular interesse que as alusões históricas dos salmos não ultrapassam os tempos de Davi, excetuando o Salmo 137, um salmo anônimo que versa sobre o cativeiro. Vários salmos dizem respeito, em termos gerais, aos tempos do cativeiro e às dificuldades enfrentadas em períodos de desolação do templo (por exemplo, Sal. 80; 85 e 129). Entretanto, essas são descrições poéticas bastante gerais, e não deveríamos esquecer que Jerusalém foi saqueada por mais de uma vez. O próprio Davi enfrentou duas conspirações em seu palácio. Nenhum dos salmos acima referidos é atribuído a Davi, embora alguns deles pudessem ter sido compostos em seus dias, ou pouco mais tarde» (Cf. F. H. Henry, editor, The Biblical Expositor, II, pág. 49).
Após termos suprido tais informações, nem por isso temos demonstrado que todos os setenta e quatro salmos atribuídos a Davi foram, na realidade, escritos por ele. Porém, temos dado motivos para crer que a contribuição de Davi foi real e vital. A posição radical que diz que os Salmos, como uma coletânea, foram compostos em tempos pós-exilicos, pelo menos em sua maioria, não resiste à investigação. Podemos concluir, portanto, que a maior parte dos salmos foi composta mais ou menos na época do primeiro templo de Jerusalém, ou seja, 1000 a.C., ou ligeiramente mais tarde.
V.   Várias Compilações e Fontes Informativas
Já apresentamos o essencial desta questão, conforme aparecem diversos informes nos títulos dos salmos, no segundo parágrafo da quarta seção da Introdução. Se esses títulos estão essencialmente corretos historicamente falando, então outras fontes informativas devem ser rebuscadas entre os quarenta e nove salmos anônimos. Sempre que um título não for de caráter histórico, teremos o aumento no número de salmos anônimos.
Diversas coletâneas secundárias (envolvendo assim autores e datas diferentes) podem estar indicadas nos títulos hebraicos shir, miktam, maskil etc. Uma de minhas fontes informativas conjectura que pode ter havido um mínimo de dez coletâneas menores de salmos, antes da compilação final do Saltério. Temos o Saltério Eloista como exemplo de uma coletânea distinta. Esses são salmos onde o nome divino predominante é Elohim. Trata-se dos Salmos 42 a 83. Curiosamente, o Sal. 53 é uma recensão eloista do Sal. 14; e o Sal. 70, de Sal. 40.13-17. Além disso, temos os Cânticos dos Degraus, um grupo distinto de salmos (120 a 134) que, provavelmente, eram usados pelos peregrinos, quando subiam para celebrar festividades religiosas em Jerusalém. O trecho de Sal. 135.21 tem uma doxologia que pode ter assinalado o fim de uma dessas coletâneas secundárias. As doxologias finais do quarto livro podem ter encerrado originalmente uma pequena coletânea, que acabou fazendo parte do todo. Ver Sal. 106.48. As coletâneas secundárias refletem crescimento e a ideia de crescimento implica diferentes datas para diferentes segmentos do livro de Salmos.
VI.   Conteúdo e Tipos
A.     Quatro Tipos Principais:
1. Os Salmos de Davi. O livro I (Sal. 1 – 41) é essencialmente atribuído a Davi, exceto o Salmo 1, que é a introdução a esse livro 1, e o Sal. 33, que não tem título. Parece que foi Davi quem primeiro coligiu o primeiro grande bloco de material que, finalmente, veio a fazer parte da coletânea total, no livro de Salmos. Um total de setenta e quatro salmos lhe são atribuídos; e, como é óbvio, eles não ficam todos no livro I.
2.     Os Salmos de Salomão. Os livros II e III exibem um maior interesse nacional que o livro I. Esses livros incluem os Sal. 42 a 89. O rei Salomão foi o responsável pela doxologia de 72.18-20, e pode ter sido o compilador (embora não o autor) do livro II. Porém, os Sal. 42 a 49 são produção do clã cantante dos filhos de Coré. O Salmo 50 é de autoria de Asafe.
3.     Os Salmos Exílicos. O livro III contém os Salmos 32, 52, 74, 79, e 89, que aludem à história posterior de Israel, já distante do período de Davi, mencionando a destruição de Jerusalém, em 586 a.C,, e certas condições próprias do exílio. Porém, esse livro mostra certa variedade de composições, da parte de vários autores. De Davi (como o Sal. 86), de Asafe (Sal. 73 -83), dos filhos de Coré (Sal. 84, 85 e 87).
4.    Os Salmos da Restauração, Pós-Exílicos e Macabeus. Nestes salmos predomina o interesse litúrgico. Os Salmos 107 e 127 devem ter provindo do tempo após o   retomo dos exilados, em 537 a.C., e talvez existissem em uma coletânea separada, que foi então adicionada. Um inspirado escriba pode ter trazido o livro V (Sal. 107 – 150) à existência, unindo-o aos livros I — IV, ao adicionar a sua própria composição (Sal. 146-150) como uma espécie de grande aleluia! relativo ao Saltério inteiro. E isso pode ter ocorrido em cerca de 444 a.C, (Sal. 147.13), quando Esdras proclamou a renovação da adoração de Israel no segundo templo de Jerusalém. Alguns estudiosos pensam que o próprio Esdras pode ter sido o responsável pela compilação final (Esd. 7.10). Outros eruditos têm pensado que o período dos Macabeus foi o tempo da produção de muitos salmos, a começar por 168 a.C. Porém, naquele período, o aramaico já havia sobrepujado quase inteiramente o hebraico, e os salmos não foram compostos em aramaico. Ademais, o material dos Manuscritos do Mar Morto contém os salmos, fazendo a data de sua composição retroceder para antes do período dos Macabeus. Por conseguinte, é improvável que um grande número de salmos se tenha originado no tempo dos Macabeus.
B.   Os Cinco Livros:
O     livro de Salmos divide-se em cinco livros, cada um dos quais termina com uma doxologia. São os seguintes: Livro I (Sal. Ml); Livro II (Sal. 42-72); Livro III (Sal. 73-89); Livro IV (Sal. 90-106); Livro V (Sal. 107-150).
C.      Temas Principais:
1.       O tema messiânico. Preservei este assunto para ser ventilado na seção oitava, onde ele é descrito pormenorizadamente.
2.       Louvor. Alguns exemplos são Sal. 47; 63; 104; 145 – 150.
3.       Pedidos de bênção eproteção. Sal. 86; 91 e 102.
4.       Pedidos de intervenção divina. Sal. 38 e 137.
5.       Confissão de fé, especialmente no tocante aos poderes e ofícios do Senhor. Sal. 33; 94; 97; 136 e 145.
6.       Penitência pelo pecado. Sal. 6; 32; 38; 51; 102; 130 e 143. Em algum destes salmos, o perdão recebido é o assunto principal.
7.       Intercessão em favor do rei, da nação, do povo etc. Sal. 21; 67; 89 e 122.
8.       Imprecações. Queixas contra os adversários e o pedido para que Deus proteja, faça justiça e vingue. Sal. 35; 59; 109.
9.       Sabedoria, homilias espirituais, com o oferecimento de instruções (salmos pedagógicos). Sal. 37; 45; 49; 78; 104; 105-107; 122.
10.     governo e a providência divina. Como Deus trata com todas as classes de homens, incluindo os ímpios. Sal. 16; 17; 49; 73e94.
11.   Exaltação à lei de Deus. Sal. 19 e 119.
12.   O reino milenar do Messias. Sal. 72.
13.   Apreciação pela natureza. Temos aqui um reflexo da bondade, da glória e da beleza de Deus. Sal. 19; 29; 33; 50; 65; 74;75; 104; 147 e 148.
14.   Salmos históricos e nacionais, onde é elogiada a condição de Israel. Sal. 14; 44; 46-48; 53; 66; 68; 74; 76; 78-81; 83; 85; 87; 105; 108; 122; 124-129. São passados em revista muitos incidentes da história de Israel, e a providência divina é celebrada. O futuro de Israel é projetado de forma esperançosa.
15.   A humilde natureza humana e sua grandeza. Sal. 8; 31; 41; 78; 100;103 e104.
16.   A existência da alma e sua sobrevivência. Sal, 16.10,11; 17.15; 31.5; 41.12; 49.9,14,15. Historicamente, essa crença entrou no judaísmo mediante os Salmos e os livros dos profetas, e mostra-se ausente no Pentateuco.
17.   Liturgia. Sal. 4; 5; 15; 24; 26; 30; 66; 92; 113-118; 120-134.
VII. A Esperança Messiânica
Ver a décima segunda seção quanto a uma lista completa de citações extraídas do livro de Salmos e contidas no Novo Testamento. Muitas dessas citações são de natureza messiânica. O próprio Senhor Jesus referiu-se aos Salmos, que prediziam a seu respeito (ver Luc. 24.44). Billy Graham chegou a asseverar que todos os Salmos são messiânicos. Certamente isso é um exagero, mas o fato de que esse livro do Antigo Testamento foi o mais constantemente citado pelos autores do Novo Testamento mostra que ali o elemento messiânico certamente é fortíssimo. Por esse motivo, destaquei essa questão do restante do conteúdo deste verbete, para efeito de ênfase.
1.       Sal. 2.1-11. O poderoso Filho de Deus, exaltado pelo Pai contra os seus adversários, triunfa sobre tudo e todos. Este trecho é citado em Atos 4.25-28; 13.33; Heb. 1.13 e 5.5; onde recebe uma interpretação messiânica,
2.       Sal. 8.4-8. A exaltação do Filho de Deus. Todas as coisas foram postas debaixo de seus pés, o que sob hipótese nenhuma pode aplicar-se a um mero ser humano. Esta passagem é citada em Heb. 2.50-10 e I Cor, 15.27, dentro de contextos messiânicos.
3.       Sal. 16.10. A incorrupção do Filho de Deus em sua morte; sua divina e miraculosa preservação; sua segurança no Pai. Este salmo é citado em Atos 2.24-31 e 13.35-37, sendo aplicado à ressurreição de Cristo, bem como à sua autoridade e exaltação gerais.
Há seis salmos da paixão: Sal. 16; 22; 40; 69; 102 e 109.
4.       Sal. 22. Um dos salmos da paixão que fornecem detalhes sobre a crucificação e descrevem os sofrimentos do Messias. Este salmo é citado em Mat. 26.35-46; João 19.23-25 e Heb. 2.12. O Sal. 22.24 prediz a glorificação de Cristo; o vs. 26 fala sobre a festa escatológica e o futuro trabalho de ensino do Messias (vss. 22,23, 25; Heb. 2.12).
5.      Sal. 40.6-8. A encarnação. A citação acha-se em Heb.
10.5-10.
6.       Sal. 46.6,7. O trono eterno do Messias. Sua natureza divina (vs. 6), embora distinta do Pai (vs. 7). O trecho de Heb. 1.8,9 cita esta passagem.
7.       Sal. 79.25. A maldição sobre Judas Iscariotes, citada em Atos 1.16-20.
8.       Sal. 72.6-17. O governo do Messias. Seu reino será etemo (vs. 7); seu território será vastíssimo (vs. 8); todos virão para adorá-lo (vss. 9-11).
9.       Sal. 89.3,4,28,29,34-36. O Messias como o Filho de Davi; sua descêndencia será eterna (vss. 4, 29, 36, 37). Este salmo é citado em Atos 2.30.
10.   Sal. 102.25-27. A eternidade do Filho-Messias. Uma invocação a Yahweh (vss, 1-22) e a El (vs. 24) é aplicada a Jesus Cristo.
11.   Sal 109.6-19. Judas Iscariotes é amaldiçoado. O Messias teria muitos adversários, mas havia um maior de todos. O plural aparece nos vss. 4,5 e muda para o singular no vs. 6, sendo reiniciado no vs. 20. Este salmo é citado em Atos 1.16-20.
12.   Sal. 110.1-7. A ascensão e o sacerdócio do Messias. Ele é o Senhor de Davi (vs. 1), e é sacerdote eternamente (vs. 4). Este salmo é citado em Mat. 22.43-45; Atos 2.33- 35; Heb. 1.11; 5.6-10; 6.20; 7.24.
13.   Sal. 132,11,12. Ele, o Filho de Davi, é a semente real e eterna. Este salmo é citado em Atos 2.30.
14.   Oficio de Profeta, Sacerdote e Rei. Que o Messias pudesse ocupar esses três ofícios, foi profetizado antes mesmo do tempo de Davi. O Messias é visto como profeta (Deu. 18.15), como sacerdote (Lev. 16.32) e como rei (Núm. 24.17). Ora, nos Salmos há indicações acerca de todos esses três ofícios. Ele é profeta em Sal. 22.22, 23, 25; Sal. 23. Ele é sacerdote, divino e humano em Sal. 110.2. Ele é rei em Sal. 2; 6; 12; 24 e 72. Essas três ideias são combinadas em Sal. 22.12 e 110.2.
Quanto a completos detalhes sobre a questão dos ofícios de Cristo como profeta, sacerdote e rei, ver na Enciclopédia o artigo intitulado Ofícios de Cristo. Ver a tradição profética em geral sobre o Messias, com referências cruzadas com o Novo Testamento, no artigo chamado Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus,
VIII.  Usos dos Salmos
1.       Todos os estudiosos concordam que os Salmos eram o hinário do segundo templo de Israel. No entanto, essa restrição não é imperiosa. O trecho de I Cor. 6.31 ss. demonstra o uso de música elaborada no culto divino, nos próprios dias de Davi. Portanto, o uso litúrgico dos salmos foi importante desde o começo. E isso teve prosseguimento na Igreja cristã, onde muitos salmos foram musicados e usados no culto de adoração. Além disso, muitos versículos, porções de salmos ou ideias ali contidas foram incorporados nos hinos cristãos.
2.  Os salmos prestam-se muito bem a devoções particulares, sendo extremamente ricos em conceitos espirituais, além de excelentes como consolo e inspiração para o louvor ao Senhor. Muitos salmos são obras-primas literárias em miniatura, conforme se vê nos Salmos 1; 2; 8; 19; 22; 23 e 91. Qualquer seleção será forçosamente defeituosa, mas essa seleção ilustra o ponto.
3.Os Salmos são uma Bíblia em miniatura dentro da Bíblia, conforme Lutero afirmou, repletos de ideias religiosas e de fervor. Não foi por acidente que os autores do Novo Testamento citaram mais dos Salmos do que de qualquer outro livro do Antigo Testamento. Ver a décima segunda seção quanto a uma demonstração desse fato. O próprio Senhor Jesus muito se utilizou dos salmos. Ele e os seus discípulos entoaram o Hallel (Sal. 113 -118), por ocasião da Última Ceia.
4. Textos de prova acerca do messiado de Jesus são abundantes nos Salmos, conforme é demonstrado na sétima seção da Introdução.
5. Uso dos Salmos em Ocasiões Especiais. Os títulos dos salmos dizem-nos que muitos deles eram usados em certas ocasiões, como o sábado, as festividades religiosas etc. Para exemplificar, o Sal. 92 era usado no sábado, e talvez igualmente o Sal. 136. Os Sal. 120 – 134 são conhecidos como «Salmos dos Degraus», porquanto eram entoados pelos peregrinos quando subiam a Jerusalém, para celebrar as principais festas dos judeus.
Alguns eruditos pensam que vários salmos eram usados na festa anual da entronização de Yahweh, como Rei de Israel, um costume que tinha paralelos no paganismo. Os Sal. 47; 93; 95 – 99 são designados como tais. E alguns estudiosos supõem que essa prática se alicerçasse sobre a festa do Ano Novo na Babilônia, o akitu, quando o deus Marduque era carregado pelas ruas da cidade de Babilônia. Depois de um elaborado ritual, era-lhe conferido mais um ano de autoridade no país, como um rei divino. Presumivelmente, as palavras de Sal. 24.7,8: «Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória… o Senhor poderoso nas batalhas», refletem aquele costume, que teria sido copiado pelos israelitas. Mas a maior parte dos eruditos conservadores assevera que salmos que supostamente aludem a essa festa podem ser explicados melhor de outras maneiras. Talvez aquelas assertivas do Sal. 24 reverberem o transporte da arca da aliança para Jerusalém. Além disso, os salmos que exaltam ao Rei, de modo geral, fazem-no Rei sobre todas as coisas e sobre todos os povos, e não meramente sobre Israel. E isso pode ser um argumento contra a interpretação que fala em uma entronização específica do Rei divino sobre a nação de Israel. Essa universalidade pode ser vista em Sal. 93; 95-100. Com base em raciocínios subjetivos, alguns eruditos opinam que Israel jamais haveria de emular uma festividade paga, e argumentam que não há nenhuma evidência convincente e direta de que havia tal festividade em Israel. Outrossim, de que adiantaria ao homem entronizar a Deus? Em sociedades idólatras, ideias assim podem parecer razoáveis; mas não nas comunidades onde Deus aparece como todo-poderoso e transcendental.
6.  Critica de Forma: Formas Literárias. Hermann Gunkel, em sua obra Awrewahlte Psalmen, 1905, procurou demonstrar, no livro de Salmos, cinco distintas formas literárias que, por sua vez, implicariam usos específicos dos Salmos. Essas formas literárias seriam: a. hinos para cultos de adoração pública; b. lamentações e intercessões coletivas, em tempos de desastre nacional; c. salmos reais, cuja função prática era a de confirmar a autoridade do rei, como cabeça da teocracia em Israel; d. salmos de ação de graças; e.lamentações, intercessões e confissões individuais, além de pedidos para que fossem supridas necessidades pessoais. Não parece haver nenhuma razão para duvidarmos da exatidão geral dessas observações. Pois podemos estar certos de que havia um usocoletivo e comunal dos salmos, embora também houvesse um uso individual e privado.
7.  Magia e Contra-Encantamentos. Alguns estudiosos têm sugerido que trechos do livro de Salmos, como 6.6-8; 64.2-4; 69; 91; 93.3-7 e 109 talvez fossem usados como fórmulas mágicas, para neutralizar as forças demoníacas. Isso poderia envolver uma prática coletiva e cúltica, ou então uma prática individual. Argumentos em favor e contra essas práticas (mormente no caso do uso dos salmos) estão baseados em sentimentos e raciocínios subjetivos, porquanto é extremamente difícil determinar quanta verdade possa haver nesse parecer. Seja como for, sabemos que tais práticas eram e continuam sendo comuns em muitas culturas. Sempre haverá muitas forças malignas ao nosso redor, que precisarão ser exorcizadas.
IX.   A Poesia dos Hebreus
Como é evidente, os Salmos são a grande coletânea de composições poéticas da Bíblia. Quedamo-nos admirados diante da qualidade de muitas dessas antigas peças literárias, algumas das quais são obras-primas em miniatura. A poesia teve uma antiga e longa tradição na literatura dos hebreus. Ver na Enciclopédia sobre Pentateuco, primeira seção, décimo ponto, quanto a ilustrações a respeito, extraídas da porção mais antiga do Antigo Testamento. Ver também sobre Poeta, Poesia, especialmente em sua segunda seção,Poesia no Antigo Testamento,
X.   Pontos de Vista e Ideias Religiosas
1.   Apesar de os Salmos serem composições líricas, expressões emocionais e de fervor religioso, também transmitem muitos pensamentos, e, indiretamente, apresentam muitas doutrinas. A teologia hebréia geral faz-se presente, com algumas adições, como a crença na existência da alma e sua sobrevivência diante da morte biológica, e um fortíssimo tema messiânico. O estudo sobre os temas, na sexta seção, onde os principais temas são alistados, dá uma ideia sobre a multiplicidade de ideias apresentadas nesse livro da Bíblia.
2.    A existência da alma e sua sobrevivência diante da morte física foi uma doutrina que só passou a ser expressa mais tarde, no judaísmo. No Pentateuco não há nenhuma referência clara e indisputável a esse fato. Muitas leis nunca são associadas a alguma recompensa ou punição após- túmulo. Não faltamos com a verdade ao afirmar que a maior parte dos ensinamentos do judaísmo sobre essa questão foi tomada por empréstimo. Tendo começado a ser expressa nos Salmos e nos livros dos profetas, foi nos livros apócrifos e pseudepígrafos, porém, que esse assunto encontrou seu maior desenvolvimento, antes do começo do Novo Testamento. O relato sobre Saul e a feiticeira de En-Dor demonstra a crença na existência da alma ao tempo de Davi. Ver I Sam. 28.3 ss, quanto à interessante narração do encontro de Saul com o espírito de Samuel. Indicações existentes no livro de Salmos, acerca da crença na existência da alma são: 16.10,11; 17.15; 31.5; 41.12; 49.9,14,15.
3.   Os salmos imprecatórios, de fervorosa invocação a Deus para que mate os inimigos, podem ser facilmente entendidos dentro do contexto histórico, quando o povo de Israel quase sempre via-se sob a ameaça de um punhado de inimigos mortais; e o próprio Davi, como indivíduo, sempre teve de enfrentar tais dificuldades. Naturalmente, a atitude desses salmos não é a mesma que a de Jesus, o qual exortou os homens para que amassem seus inimigos. As imprecações fazem parte da natureza humana, e não nos deveríamos surpreender em encontrá-las nas páginas da Bíblia, Porém, é ridículo defender a espiritualidade das imprecações propriamente ditas. Muitos estudiosos conservadores têm tentado fazer precisamente isso. Talvez o comentário de C. I. Scofield, em sua introdução ao livro de Salmos, seja o mais sugestivo que podermos achar: «Os salmos imprecatórios são um grito dos oprimidos, em Israel, pedindo justiça, um clamor apropriado e correto da parte do povo terreno de Deus, e alicerçado sobre promessas distintas do pacto abraâmico (ver Gên. 15.18); porém, um clamor impróprio para a Igreja, um povo celeste que já tomou seu lugar junto com um rejeitado e crucificado Cristo (ver Luc. 9.52-55)». Exemplos de salmos imprecatórios são os de números 35, 59 e 109.
4.   Ensino sobre o Messias, apesar de não tão avançado quanto no livro de I Enoque (se comparados aos conceitos que figuram no Novo Testamento), é surpreendentemente extenso. Dediquei a sétima seção da Introdução ao assunto.
5.   Apesar de que muitos dos salmos foram designados para um uso litúrgico, neles aparecem muitas indicações de uma apropriada atitude individual espiritual, bem como da correta espiritualidade pessoal. Quanto a esse aspecto, os salmos concordam, grosso modo, com os livros dos profetas. Ver Sal. 15.1 ss.; 19.14; 50.14,23; 51.16 ss.
6.   Há uma exaltada doutrina de Deus nos salmos tão generalizada que aparece praticamente em todos os salmos.
7.   A importância da experiência religiosa pessoal é uma ênfase constante no livro de Salmos. Deus é retratado como quem está à disposição dos seres humanos, refletindo assim o ensino do teísmo, e não do deismo (ver a respeito no Dicionário). O teísmo ensina que Deus não somente criou, mas também permanece interessado na sua criação, intervindo, recompensando e castigando. Mas o deísmo alega que Deus, ou alguma força divina criadora, após ter criado tudo, abandonou o mundo, deixando-o à mercê de forças naturais.
8.   São ressaltados os deveres do homem para com Deus, como o arrependimento, a vida santificada, a adoração, o louvor, a obediência através do serviço e o amor ao próximo.
9.   A adoração pública é uma questão obviamente frisada no livro de Salmos, visto que muitas dessas composições eram usadas exatamente nesse contexto. Precisamos pesquisar pessoalmente as questões religiosas; mas também precisamos fazê-lo coletivamente. A participação na adoração pública é encarecida em trechos como Sal. 4.5, 20.3, 51.19; 66.13-5.
10.   A adoração não-ritual não é desprezada, devendo fazer parte integrante da busca espiritual dos homens. Ver Sal. 40.6 e 50.9.
XI.   Canonicidade
Ver na Enciclopédia o artigo sobre Cânon, no que se aplica ao Antigo Testamento. Para os saduceus, somente o Pentateuco era considerado digno de ser chamado de Escrituras santas e autoritárias. Para os judeus palestinos, como era o caso dos fariseus, as três grandes seções de livros sagrados aceitos eram: o Pentateuco, os Escritos (que incluíam os Salmos) e os Profetas. Na ordem da arrumação judaica, os Escritos formavam a terceira seção. Entre os judeus da dispersão, vários livros apócrifos eram aceitos. E não éinexato falar sobre o Cânon Alexandrino. Além disso, havia as obras pseudepígrafas, revestidas de prestígio suficiente para que muitas ideias ali contidas fossem aproveitadas pelos escritores do Novo Testamento, embora, como uma coletânea, os livros pseudepígrafos nunca tivessem obtido condição canônica. E que a canonicidade origina-se, essencialmente, do valor interno de uma obra escrita, que se toma óbvio para todos quantos a lêem, além de originar-se da consagração da antiguidade, o que é uma espécie de processo histórico religioso, e, finalmente, de originar-se de pronun-ciamentos oficiais da parte de líderes religiosos, pronunciamentos esses que formam a base tradicional acerca dos livros sacros. Os estudiosos conservadores, ademais disso, pensam que o poder e a presença do Espírito Santo estão envolvidos nesses vários aspectos da questão. Mas os eruditos liberais mais radicais são da opinião de que o processo inteiro depende da mera seleção natural (uma espécie de seleção do leitor, aplicada às questões religiosas); mas, assim pensando, esses eruditos olvidam-se totalmente do elemento sobrenatural e dos poderes divinos por trás desse processo. Ver na Enciclopédia sobre Inspiração,
Se a coletânea dos Salmos foi-se formando através de um longo período de tempo, chegando a ser compilada somente após o cativeiro, então nenhuma canonização final poderia ter ocorrido até estar completa a coletânea. Porém, coletâneas preliminares (como aquelas de Davi, de outras antigas personagens e de clãs de músicos) tiveram suas próprias canonizações preliminares, o que explica a sua preocupação no decorrer de muitos séculos.
«No caso dos livros I, II e IV do Saltério, a canonização deve ter ocorrido com considerável presteza. O Sal. 18 foi incluído dentro do livro canônico de Samuel, dentro de meio século após a morte de Davi… Os Salmos 96 – 105 e 106 foram designados por Davi como um padrão para a adoração pública, bem no início de seu governo sobre todo o Israel (ver I Cro. 16.7-36). A designação de muitos outros salmos, para que os músicos os preparassem para a adoração prestada por Israel, serve de evidência de uma similar canonização consciente dos poemas de Davi. E o fato de que Davi e Salomão compilaram intencionalmente os livros I, II e IV, quando ainda viviam, fornece-nos testemunho extra do reconhecimento da autoridade espiritual pelo menos daqueles oitenta e nove salmos pelos contemporâneos desses dois monarcas». (Z)
O   livro III, portanto, que contém as porções pós-exílicas do livro de Salmos, foi acrescentado. Talvez muitos dos salmos ali envolvidos fossem pré-exílicos e já fizessem parte da coletânea. Há pouco ou mesmo nenhum testemunho externo quanto à aceitaçãocanônica do livro de Salmos, até o período intertestamentário. Somente então obtemos algumas declarações acerca do uso desses poemas. Por exemplo, o trecho de II Macabeus 2.13 refere-se aos livros de Davi, juntamente com os escritos de outros reis e de profetas. A passagem de Sal. 79.2 é citada como Escritura. Os Salmos já faziam parte da versão da Septuaginta do século III a.C., o que significa que o recolhimento e a autoridade desses poemas devem ter sido cristalizados antes do preparo daquela versão. O material das cavernas de Qumran, do século II a.C., também exibe os Salmos, o que serve de outro índice da aceitação da coletânea desde tempos mais remotos do que alguns estudiosos têm pensado. O rolo principal dos Salmos, encontrado na caverna II (além de cinco outros fragmentos), apresenta amplo material extraído dos livros IV e V dos Salmos. Esse material, porém, apresenta alguma variação na ordem sucessiva dos salmos, sugerindo que houvesse certa fluidez no arranjo dos salmos, e que o livro de Salmos ainda não havia chegado à sua forma final, conforme o conhecemos atualmente. Entretanto, alguns especialistas pensam que os salmos achados na caverna II  formavam uma espécie de lecionário, e não uma completa coletânea dos salmos, em sua ordem normal. Porém, é impossível determinar a verdade por trás dessa questão.
Seja como for, de acordo com o arranjo final dos escritos do Antigo Testamento, encontramos a Lei, os Profetas e os Escritos. E o livro de Salmos fazia parte dessa terceira porção, os Escritos. Josefo referiu-se ao Antigo Testamento como uma coletânea de vinte e dois livros: Pentateuco, cinco; Profetas, treze, e os Hinos de Deus e Conselhos dos Homens (Apion, 1,8), que incluíam os Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.
Outrossim, temos as próprias declarações canônicas do Senhor Jesus, em Mat. 23.35 e Luc. 24,44.
Os Salmos são o segundo livro mais volumoso da Bíblia, perdendo somente para as profecias de Jeremias, mas o livro de Salmos é o mais constantemente citado no Novo Testamento. E dificílimo pôr em dúvida sua posição no cânon da Bíblia e sua autoridade espiritual.
XII.  Os Salmos no Novo Testamento
Os Salmos são citados no Novo Testamento por cerca de oitenta vezes, o que significa que, dentre todos os livros do Antigo Testamento, esse foi o mais constantemente utilizado pelos autores neotestamentários. A muitas dessas citações foi dada uma interpretação messiânica, sobre o que comentei com pormenores na sétima seção e o artigo separado intitulado Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus,
SalmosNovo Testamento
2.1,2Atos 4,25,26
2.7Atos 1333;Heb. 1.5e5.5
4.4Efé. 4.26
5.9Rom. 3.13
8.3 LXXMat. 21.16
8.4-6 LXXHeb. 2.6-8
8.6I Cor. 15.27
10.7Rom. 3.14
14.1-3Rom. 3.10-12
16.8-11Atos 2.25-28
16.10Atos 2.31
16.10 LXXAtos 13.35
18.49Rom. 15.9
19.4Rom. 10.18
22.1Mat 27.46; Mar. 15.34
22.18João 19.24
22.22Heb. 2.12
24.11 Cor. 10.26
31.5Luc. 23.46
32.1,2Rom. 4.7,8
34.12-16IPed. 3.10-12
35.19João 15.25
36.1Rom. 3.18

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