Livro de Êxodo


O livro de Êxodo, segunda seção da Tora, é chamado em hebraico, We’ele, ou às vezes, Shemoth, nomes derivados de suas palavras iniciais «estes são os nomes», ou mais abreviadamente, «nomes dos», pois estaseção da Tora começa com os nomes dos patriarcas que desceram do Egito. Em português o termo êxodo é a forma latinizada que se derivou da LXX, versão grega do VT (ex — fora + hodos — caminho = «saída»).
Esboço:
I.     Composição
1.    Autoria e Data
2.    Relação com o Resto do Pentateuco
3.    Ponto de Vista Literário
II.    Historicidade
III.   Quatro Áreas Salientadas
1.    Redenção dos Hebreus da Terra do Egito
2.    Estabelecimento do Pacto
3.    A Lei
4.    O Culto
IV.   Conteúdo
V.    Seção Legal
1.    Leis Dadas Antes do Sinai
2.    Os Dez Mandamentos
3.    O Livro do Pacto
4.    Regulamentações para o Tabernáculo e Estabelecimento do Sacerdócio.
5.    O Decálogo Ritual
VI.   Milagres
I.  Composição
1.  Autoria e Data. Semelhantemente ao caso dos outros livros do Pentateuco, a questão da autoria de Êxodo divide os estudiosos em duas classes: a. a do ponto de vista conservativo e b. a da escola critica.
a.   Ponto de vista conservativo. Os conservativos reivindicam que Êxodo, bem como o Pentateuco como um todo foi escrito por Moisés. Eles admitem que talvez Moisés tenha usado fontes antigas, orais ou escritas, mas que a despeito disso, ele é o único autor dos cinco primeiros livros da Bíblia. Os que mantêm essa opinião, suportam seu ponto de vista com base nas seguintes passagens de Exodo: 1. Duas vezes o livro declara que Deus falou para Moisés escrever (17:14; 34:27); 2. uma vez o livro diz que Moisés escreveu (24:4); 3. Cristo declarou que Moisés escreveu (João 5:46,47); 4. Cristo atribuiu também Êx. 20:12 e 21:17 a Moisés em Marcos 7:10. 5. Em Marcos 12:26 Jesus se refere ao «livro de Moisés» contudo, admitem os conservadores neste trecho que talvez Jesus estivesse se referindo à tradição judaica que atribula a Moisés a responsabilidade do conteúdo do livro. Autoria mosaica implicaria uma data provavelmente no séc. XIII A.C.
b. Ponto de vista crítico. Os críticos afirmam que Êxodo é o resultado da compilação dos documentos J, E, D, e P(S) (que vide), onde cada um desses documentos consistia em uma narrativa e em um número de leis.
O documento J é constituído de narrativas judias antigas e seu autor revela um interesse no reino judeu e em seus heróis (850 A.C.). A palavra Yahweh (Jeová) é usada neste documento para referir-se a Deus.
O documento E contém as antigas narrativas efraemitas originadas por volta de 750 A.C. O escritor de E demonstra um interesse no reino do N de Israel e em seus heróis. Ele emprega o vocábulo Eloim em vez de Yahweh (Jeová) para referir-se a Deus.
O documento D, também chamado Código Deuteronômico, foi encontrado no templo no ano 621 A.C. Esse documento aborda o fato de que o amor é a razão mesma do servir; e salienta a doutrina de um único altar.
O Código Sacerdotal ou documento P(S) originou- se por volta do ano 500 A.C., todavia sua redação prorrogou-se até o IV séc. A.C. Esse documento evidencia uma preferência por números e genealogias, distinguindo-se dos outros também quanto ao seu ponto de vista sacerdotal e ritualístico.
Os críticos esclarecem que as fontes de Êxodo, além de distintas entre si, datam de um período bastante posterior aos eventos que narra. Eles acentuam também que o livro não só revela o trabalho de diferentes indivíduos, mas de diferentes escolas de registros históricos. Cada documento tem seu ponto de vista individual, assim como cada evangelho sinóp­tico apresenta sua própria visão da vida de Cristo.. Certo erudito disse que o livro de Êxodo era como uma grande sinfonia, que uma vez pensou-se produzir uma harmonia uníssona, mas que agora tem sido demonstrado que em virtude de seus elementos intensamente discordes entre si, pode produzir uma harmonia ainda mais rica.
2.   Relação com o Resto do Pentateuco. A narrativa de Êxodo está intimamente relacionada com a de Gênesis, pois continua a história dos descendentes dos patriarcas do ponto onde Gênesis 50 parou, embora um tempo considerável tenha se passado entre a morte de José e os primeiros eventos de Êxodo (1:7 ss), durante o qual o povo de Israel fora levado à posição de servidão. Depois de descrever a emigração do Egito, o livro relata o ato da entrega da lei e da construção do tabernáculo. As regras para o sacrifício que seguem e formam a primeira parte de Levítico. Exodo não é tanto um livro independente quanto uma porção arbitrariamente definida de uma seção do Pentateuco que abrange três livros. A divisão entre Êxodo e Levítico é semelhante àquela entre I e II Samuel ou entre I e II Reis.
3.    Ponto de Vista Literário, como uma obra de literatura é inferior a Gênesis, embora algumas qualidades similares de estilo narrativo intenso e vigoroso sejam evidentes em certas porções. A despeito de algumas incertezas, este livro constitui uma fonte valiosa de história política e cultural. O conteúdo de Êxodo está dividido em partes quase iguais entre narrativa e seção legal. Os primeiros 19 caps. são quase inteiramente narrativos, com exceção de pequenas seções legais, a saber, 12:14-27, 42-49; 13:1-16. O restante do livro trata solidamente da lei, com exceção do cap. 24, que descreve o reconheci­mento do pacto, e dos caps. 32-34, que descrevem a rebelião do povo, a intercessão de Moisés, e a renovação do pacto.
II. Historicidade
Grandes são os problemas de historicidade, rota percorrida, e data do êxodo. Enquanto os pesquisado­res não têm descoberto nenhuma prova contemporâ­nea direta desse evento, uma série de evidênciasindiretas tem ajudado a esclarecer muitos detalhes. Os primeiros 12 capítulos descrevem principalmente as ocorrências da última parte do 2a milênio A.C. no Egito. Os eventos dos capítulos restantes aconteceram na península Sinaítica. Um tratamento mais deta­lhado concernente à história, localidade geográfica e cronologia está apresentado no presente artigo.
Nesta seção, nos limitamos a apresentar a seguir, um breve sumário de alguns aspectos importantes ressaltados pelos peritos no assunto.
1.  Embora uma considerável porção do livro reflita aspectos da vida e história egípcia, escassos são os detalhes que poderiam indicar o tempo preciso dos eventos narrados. Em nenhuma ocasião o rei do Egito é mencionado pelo nome. “Faraó” ou «rei do Egito», são as duas formas empregadas para referir-se a ele. Acreditava-se que a data do êxodo poderia ser determinada se fosse descoberto que Faraó morreu afogado. Todavia, esse detalhe não tem sido esclarecido e o texto de Êxodo nem mesmo indica que o rei tenha necessariamente morrido afogado, mas somente que sofreu uma grande derrota; que seus carros de guerra e sua carruagem se afundaram, e que seus capitães favoritos se afogaram.
A declaração em 1:8 «Levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José», sugere fortemente que a expulsão dos hicsos ocorreu no período de tempo entre a morte de José e o nascimento de Moisés. Neste caso seria fácil entender porque o novo rei teria uma atitude hostil em relação àqueles que ele associava aos hiscos, que também eram asiáticos e que dominaram o Egito durante um considerável período de tempo.
3.  A referência às cidades de Pitom e Ramessés em 1:11 tem sido apontada como prova de que os eventos descritos não poderiam ter ocorrido até a 19a dinastia, considerando que os primeiros reis que levaram o nome Ramsés pertenciam àquela dinastia. Contudo, é possível que os nomes originais foram substituídos no texto pelos nomes conhecidos posteriormente. A despeito do fato de que os íamsés não reinaram até a 19° dinastia, poderia ter existido uma cidade com o nome Ramessés, pois o culto do deus RE ou RA, era proeminente em muitos períodos da história egípcia antiga, e «mss» era um sufixo comum para nomes pessoais.
4.   A opressão egípcia é descrita como muito severa. Comprovando esse fato, há abundantes evidências do período da 18a e 19a dinastias que ilustram a crueldade dos egípcios em relação aos escravos e estrangeiros. O sinal hieroglífico representativo de um estrangeiro é a figura de um homem atado e com um ferimento sangrento na cabeça. Esse sinal é usado mesmo em conexão com nomes de honrados reis estrangeiros, com quais os egípcios fizeram acordos. Portanto, há evidências de crueldade dos egípcios em relação aos estrangeiros, e os eventos relatados no inicio de Êxodo se ajustam a essas evidências. No passado pensava-se que as grandes pirâmides do Egito eram o resultado do trabalho dos hebreus durante a opressão, contudo, essa ideia não é pertinente: as pirâmides provavelmente foram levan­tadas pelo menos mil anos antes do tempo do êxodo.
5.    Pesquisadores têm questionado a historicidade do êxodo e do evento no mar Vermelho, com base no fato de que as ruínas do Egito antigo não mencionam tais ocorrências. Todavia essa objeção se baseia numa concepção errônea da natureza da arqueologia egípcia. Muitos dos registros cotidianos e das ruínas das casas do Egito antigo, estão debaixo da bacia de água no Delta, que era a região onde a maioria das pessoas viveram. Embora abundantes, as ruínas do Egito antigo consistem principalmente de sepulcros e de monumentos construídos no deserto para celebrar conquistas e vitórias egípcias. Derrotas tais como a partida dos israelitas e o insucesso do Faraó em recapturá-los, dificilmente resultariam na construção de monumentos.
6.   Outras questões são levantadas no livro de Êxodo em relação à sua historicidade, tais como: a. Êxodo 1:5 declara que o número de pessoas que desceram de Jacó para o Egito era setenta, contudo, estudiosos observam que esse é um número meramente aproximado, b. A historicidade do capitulo 1 tem sido questionada com base no fato de que uma grande multidão, tal qual a dos israelitas, requereria mais do que duas parteiras para salvar as vidas dos meninos hebreus. Por outro lado, deve-se observar que a passagem não afirma que havia somente duas parteiras, c. Há algumas objeções em relação à história de Moisés narrada no capitulo dois. Alguns estudiosos sugerem que a história do salvamento de Moisés, através do cesto de junco é um eco da história de Sargon que também fora salvo através de um barco. Outros observam que a história de Sargon é de origem mesopotâmica e que dificilmente teria servido de base para uma história egípcia. Além disso, para as comunidades que viviam às margens do rio, esse incidente pode ser comparado ao de uma criança sendo abandonada na porta de uma casa atualmente e a existência de histórias com esse tema poderia ser perfeitamente independente, d. Aparentemente há uma contradição em relação ao nome do sacerdote de Midiã, que é chamado Reuel em 2:18, e Jetro em 3:1. Segundo os críticos, esses nomes devem ter pertencido a documentos diferentes, e o uso de ambos, comprova a combinação desses documentos.
III. Quatro Áreas Salientadas
1.  Redenção dos Hebreus da Terra do Egito. O livramento dos israelitas do poder opressivo do Faraó é um aspecto acentuado, pois esse fato condicionou a mente dos israelitas para as eras vindouras, e estabeleceu um débito permanente de gratidão para com Aquele que os livrou da escravidão. Metaforica­mente esse livramento salienta a importância da redenção da escravidão do pecado na vida de todo aquele que é remido por intermédio de Cristo, representado pelo cordeiro pascal, (12:1-14).
2.  Estabelecimento do Pacto. O pacto fundamen­tou-se no fato de que Deus, tendo redimido seu povo, tinha o direito de esperar a aliança e lealdade daquele. (Referências à redenção, sobre a qual o pacto se baseia: 19:4-6; 20:2; 22:21; 23:9-15). Para Deus, os remidos se tomaram o povo de seu pacto, e ele prometeu protegê-los e dirigi-los. Em troca eles devem obedecer a sua Lei.
3. A Lei. A declaração do pacto inicia-se com o grande sumário da lei moral nos Dez Mandamentos, e apresenta a seguir várias leis importantes para a vida daqueles que são destinados a ser uma nação santa e um povo consagrado a Deus.
4. O Culto. Esse tema é referido no capítulo 3:5,6, e nas regras da Páscoa no capítulo 12, que estabelece­ram na mente das gerações subsequentes a natureza da redenção de Deus e a necessidade individual de participação pessoal. A questão de reverência é tratada especialmente nos capítulos 25—31, que descrevem os preparativos para a construção do tabernáculo e a separação dos sacerdotes, e no relato da construção do tabernáculo nos capítulos 35—40.
IV.  Conteúdo
A.    Os Hebreus no Egito, 1:1-12:36
1.    A opressão (1:1-22)
a.    Os descendentes de Jacó no Egito (1:1-14)
b.    As parteiras poupam as vidas dos recém- nascidos (1:15-22).
2.    Preparação dos representantes de Deus
a.    Nascimento e educação de Moisés (2:1-10)
b.    Moisés mata um egípcio e foge para Midiã (2:11-22)
c.    Moisés é chamado por Deus (2:23—3:22)
d.    Deus concede poderes a Moisés (4:1-17)
e.    Moisés regressa ao Egito (4:18-31)
3.    Tentativas de sair do Egito
a.    Moisés e Arão falam a Faraó (5:1-5)
b.    Faraó intensifica a opressão dos israelitas (5:6-14)
c.    Moisés é rejeitado por Israel mas encorajado por Deus (5:15—6:13)
d.    Genealogias de Moisés e Arão (6:14-27)
e.    Moisés fida novamente a Faraó (6:28—7:13)
4.    As dez Fragas
a.    As águas tornaram-se sangue (7:14-25)
b.    Rãs (8:1-15)
c.    Piolhos (8:16-19)
d.    Moscas (8:20-32)
e.    Peste nos animais (9:1-7)
f.    Uceras nos homens e nos animais (9:8-12)
g.   Chuva de pedras (9:13-35)
h.   Gafanhotos <10:1-20)
i.    Trevas (10:21-29)
j.    A morte do primogênito é profetizada (11:1-10)
5.   A instituição da Páscoa (12:1-28)
6.   Realização da décima praga: morte dos primogênitos (12:29-36)
B.   Os Hebreus no Deserto (12:37—18:27)
1.   A saida dos israelitas do Egito (12:37-51)
a.   Consagração dos primogênitos (13:1-16)
b.   Deus guia o povo pelo caminho (13:17-22)
2.   Faraó tenta reconquistar Israel (14:1-15:21)
a.   Perseguição de Israel (14:1-14)
b.   A passagem pelo mar (14:15-25)
c.   Os egípcios perecem no mar (14:26-31)
d.   A canção da vitória (15:1-21)
3.   Experiências no deserto (15:22-18:27)
a.   As águas amargas tomam-se doces em Mara (15:22-27)
b.   Deus manda o Maná (16:1-36)
c.   A água da rocha de Refidim (17:1-7)
d.   Amaleque ataca os Israelitas (17:8-16)
e.   Jetro visita e aconselha a Moisés (18:1-12)
C.  Os Hebreus no Monte Sinai (19:1-40:38)
1.   Estabelecimento do Pacto Divino (19:3—24:11)
a.    Preparação para o Pacto (19:1-25)
b.    Os Dez Mandamentos. (20:1-17)
c.    O temor do povo (20:18-21)
d.    Leis acerca dos altares (20:22-26)
e.    Leis acerca dos servos (21:1-11)
f.    Leis acerca da violência (21:12-36)
g.   Leis acerca da propriedade (22:1-15)
h.   Leis civis e religiosas (22:16-31)
i.    O testemunho e a falsa injúria (23:1-5) j. Deveres dos juizes (23:6-9) k. O ano do descanso (23:10-11)
1.   O sábado (23:12-13) m. As três festas (23:14-19)
2.   Promessas divinas (23:20-33)
3.   A aliança de Deus com Israel (24:1-11)
4.   Deus dá instruções no Monte (24:12—31:18)
a.   Moisés e os anciãos sobem ao monte (24:12-18)
b.   Direções para a construção do tabernáculo (25:1—27:21)
c.   Direções quanto ao sacerdócio (28:1—29:46)
d.   Instruções suplementares (30:1—31:18)
5.   Idolatria do povo (32:1—33:23)
a.   O bezerro de ouro (32:1-6)
b.   A ira de Deus (32:7-10)
c.    Moisés intercedeu pelo povo (32:11-24)
d.    Moisés manda matar os idólatras (32:25-29)
e.    Moisés intercede pelo povo novamente (32:30-35)
f.     O anjo de Deus guiará o povo (33:1-23)
6.    Restabelecimento do pacto (34:1—35:3)
a.    Às segundas tábuas da lei (34:1-9)
b.    Aliança e admoestação contra a infidelidade (34:10-34:17)
c.    As três festas (34:18—34:28)
d.    O rosto de Moisés resplandece (34:29-35)
e.    O sábado (35:1-3)
7.    Construção do tabernáculo (35:4—40:38)
a.    Ofertas para o tabernáculo (35:4-29)
b.    Obreiros para o tabernáculo (35:30—36:7)
c.     As partes do tabernáculo (36:8-38:20)
d.     O custo do tabernáculo (38:21-31)
e.     As vestes dos sacerdotes (39:1-31)
f.     Os utensílios do tabernáculo completados (39:32-43)
g.    Deus manda Moisés levantar o tabernáculo (40:1-15)
h.    O tabernáculo é levantado (40:16—33)
i.    Manifestação divina de aprovação (40:34-38)
V.   Seção Legal
As leis do livro de Êxodo têm como objetivos principais: a. estabelecer regras detalhadas para a conduta das pessoas em muitas situações, originando ordem e justiça entre os homens, e b. regular o rela­cionamento dos redimidos com Deus. Outros códigos de lei têm sido descobertos, alguns deles bem mais antigos que o de Êxodo, a saber: Código de Hamurabi, rei da Babilônia, encontrado em 1901 (XVIII A.C.); um código sumério, cerca de dois séculos mais antigo, e um outro babilônico mais velho ainda; o Código ífitita (XIV A.C.), e as Leis Assírias (XII). Um exame da natureza desses códigos em relação a Êxodo demonstra que uma diferença principal entre esses códigos e Êxodo é o fato de que os outros códigos são estritamente seculares, exceto quando ocasionalmente mencionam os privilégios ou responsabilidades dos sacerdotes; Êxodo por outro lado é pesadamente religioso; inclui regras para sacrifícios, festivais anuais e outros serviços religiosos. Algumas semelhanças são também encontradas entre as leis de Êxodo e as de certos códigos, como por exemplo, a existência de dois tipos de lei, casuística e apodíctica, nos Códigos Hititas e nas leis da Ásia Menor.
As leis casuística, também chamadas leis de sentença, referem-se a situações especificas, e formula uma sentença à qual o criminoso deve ser submetido em tais situações. Estas leis geralmente se iniciam com a partícula «se», introduzindo a descrição geral da situação. Ocasionalmente a partícula «se» ocorre, acrescentando detalhes mais específicos da situação, e introduzindo juntamente uma declaração da pena apropriada. As leis apodícticas consistem de declarações categóricas sobre os crimes, geralmente semreferir-se à pena, como nos Dez Mandamentos, mas também acrescentando a pena em certas ocasiões, simplesmente terminando a declaração com a frase «ele será morto», ou precedendo a declaração com a frase «amaldiçoado seja aquele que…». Albrecht Alt,
o  estudioso que sugeriu a divisão das leis do VT nesses dois tipos, é da opinião que as leis casuísticas do Pentateuco foram extraídas das leis cananitas, enquanto que as apodícticas são de origem especificamente judaicas. Alegando o fato de que ambos os tipos de leis são encontrados também nos tratados hititas e nas leis da Ásia Menor, Mendenhall refuta essa declaração. As porções seculares das leis indicam contatoscom as leis de períodos anteriores, contudo, dizem os conservatistas, esse fato não coloca em questão a autenticidade das leis recebidas através de Moisés.
As seções legais de Êxodo são extensivas e detalhadas. Os principais grupos são: 1. As leis dadas antes do Sinai. 2. Os Dez Mandamentos. 3. O Livro do Pacto. 4. Regulamentações para o tabernáculo e estabelecimento do sacerdócio. 5. O Decálogo ritual.
1.     As leis dadas antes do Sinai compreendem a lei da páscoa, a lei da consagração dos primogênitos, e a lei do maná. Em 12:3-13 o Senhor deu ordens explicitas e completas quanto à cerimônia da páscoa, e em12:43-49 e 13:1-16, estabeleceu regras perma­nentes a respeito do grande festival anual e da consagração dos primogênitos. A lei do maná, em 16:16, 23:33, estava relacionada à necessidade imediata de regular a arrecadação e o uso da comida.
2.   Os Dez Mandamentos, também chamados Decálogo (em hebraico, as Dez Palavras), estão contidos em Exo. 20:1-17, e repetidos com pequenas diferenças em Deuteronômio 5:6-21. O caráter especial dos Dez Mandamentos, dizem os estudiosos bíblicos, reside a. no fato de que eles foram «escritos pelo dedo de Deus» nas tábuas de pedra (Êx. 31:18; 32:16; Deut. 9:10) e b. no fato de que foram recitados para a nação de Israel como um todo. Esse fato está implícito em Êxodo 20:18,19, e explicita­mente declarado em Deut. 5:4.
Os Dez Mandamentos (que vide) distinguem-se das outras seções legais quanto ao seu caráter sintético e formal de apresentar as leis. Esta seção consiste em um sumário das leis éticas, com poucos detalhes de explicação. Pena nenhuma é mencionada para a infração dos mandamentos.
A questão da originalidade dos Dez Mandamentos tem sido motivo de controvérsia entre os eruditos. Wellhausen e outros críticos afirmam que Os Dez Mandamentos representam uma forma desenvolvida de lei, que dificilmente teria existido até o tempo do último reino israelita. A diferença de redação entre o Mandamento de Sabá em Êxodo 20:8-11, e sua contraparte em Deut. 5:12-15 indica que o manda­mento original era ou mais longo, incluindo assim ambas as formas, ou mais resumido, sendo apresen­tado portanto em forma de sinético. Os que acreditam na plena inspiração das Escrituras afirmam que os Dez Mandamentos incluem todas as palavras de ambas as passagens.
Quanto à enumeração dos mandamentos, há três formas principais: 1. a enumeração de Josefo (Anttq. III .c.6, sec. 5); 2. a enumeração do Talmude; e 3. a enumeração de Agostinho. A maioria das igrejas protestantes não luteranas, e a igreja grega seguem a enumeração de Josefo. A Igreja Católica Romana e a maioria dos luteranos seguem a enumeração de Agostinho.
A disposição dos mandamentos nas tábuas tem sido motivo de polêmica: 1. Agostinho sugeriu que os três primeiros mandamentos estavam na primeira tábua, e os outros sete na segunda; 2. Calvin sugeriu que quatro estavam na Ia e seis na 2a; 3. Filo e Josefo afirmaram explicitamente que haviam cinco manda­mentos em cada tábua.
3.   O Livro do Pacto corresponde à porção de 20:22 a 23:33. Essas leis abordam uma variedade de assuntos religiosos, morais, comerciais e humanitá­rios. O livro do Pacto inicia-se com uma reiteração da advertência contra a idolatria, e segue com instruções sobre tipos de altares (20:24-26). Princípios humani­tários proporcionam o tema para a próxima seção, onde são tratados problemas de relacionamento entre mestre e servo, preservação de propriedade, compen­sação de danos pessoais, e preservação de direitos de propriedade. Esta seção acrescenta ainda mandamen­tos específicos contra imoralidade, bestialismo, espiritismo, hostilidade ao fraco e oprimido, etc.
O livra da pacto consiste basicamente de leis casuísticas, contudo, seu propósito não é fornecer um conjunto completo de leis para todos os diferentes tipos de problemas que possam eventualmente surgir, e sim, — indicar o tipo de punição — que deve ser efetuado em algumas situações comuns.
4.    Regulamentações para o tabernáculo e estabele­cimento do sacerdócio estão contidas entre os capítulos 25:1 e 31:17. Durante os 40 dias e 40 noites que Moisés permaneceu no Monte, o Senhor deu-lheinstruções quanto ao sistema israelita de adoração. Planos para a construção do tabernáculo, bem como de sua mobília e utensílios, foram estabelecidos com precisão. Segue uma descrição do uso e da natureza dos implementos usados pelos sacerdotes, tais como: a bacia de bronze para as sagradas abluções, e a preparação do perfume e do óleo sagrados, (30:17-38). Depois de seguidas as instruções desses versos, homens contemplados com o espírito de Deus eram apontados para construírem o tabernáculo e toda sua mobília (31:1-2). As descrições do santuário, do sacerdócio e forma do culto são seguidas por aquelas dos tempos e períodos sagrados (31:12 ss). Sobre tempos sagrados há aqui referência somente ao sábado, no qual outros regulamentos são contidos no que concerne às suas origens. A prepara­ção — do tabernáculo — devia tercomeçada quando Deus entregou a Moisés as tábuas da lei, se o seu progresso não tivesse sido interrompido pelo ato de idolatria por parte do povo, e pelo seu consequente castigo pela ofensa, o que é o tema da narrativa nos capítulos 32-35. Contrária e em oposição a tudo que tinha sido feito por Jeová para Israel e na presença de Israel, a terrível apostasia deste último se manifesta da maneira mais melancólica como um ominosamente significante fato profético, que é incessantemente repetido na história de subsequentes gerações. A narrativa disso está intimamente ligada com os relatos precedentes a misericórdia e gratuita fidelidade de Jeová de um lado, e a descarada ingratidão de Israel do outro, sendo intimamente associadas. Esta conexão forma a idéia central de toda a história da teocracia. Somente após a narrativa desse significati­vo evento é que o relato sobre a construção e término do tabernáculo pode proceder (35—40). Tal relato se toma mais circunstancial à medida que o assunto mesmo ganha maior importância. Acima de tudo, é fielmente demonstrado que tudo fora executado segundo os mandamentos de Jeová. Na História descritiva de Êxodo, um plano fixo, de conformidade com os princípios apresentados acima, é consistente e visivelmente carregado — através de todo o livro, dando-nos assim, a mais certa garantia da unidade de ambos: livro e autor.
5.    O Decálogo Ritual consiste em um grupo de leis nos vers. 34:10-28. Alguns dos Dez Mandamentos, e algumas das ordenanças religiosas do Livro do Pacto são repetidos neste trecho, exceto as leis casuísticas. A relação do Decálogo Ritual aos seus textos paralelos é um assunto controvérsia!. A teoria de que esta passagem é mais antiga do que os Dez Mandamentos propriamente ditos é bastante aceita.
V.   Milagres
O livro de Êxodo descreve um dos grandes períodos de miraculosa intervenção divina nas Escrituras. Os milagres desse livro podem ser classificados em três grupos: 1. milagres que provaram aos israelitas que Moisés tinha sido realmente enviado por Deus. 2. O milagre das pragas que caíram sobre o Egito como castigo; 3. milagres de providência e proteção divina no deserto. O milagre da sarça ardente, primeiro incidente de ordem sobrenatural do livro de Êxodo, não pertence a nenhum desses três grupos menciona­dos acima. Nesse incidente Deus comunicou-se particularmente com Moisés revelando-lhe sua missão.
1.   Entre os milagres que provaram a autenticidade da missão de Moisés estão: a. a transformação da vara em serpente e vice-versa; b. o fenômeno da mão de Moisés que se tornou leprosa repentinamente e foi restaurada em seguida; c. e o fenômeno da transformação da água em sangue.
2.   Com exceção da décima, as pragas do Egito, até certo ponto, consistiram em fenômenos que poderiam ocorrer naturalmente naquela região. Contudo, quatro aspectos peculiares dessas pragas provam ocaráter sobrenatural desses fenômenos, a saber: a. a intensidade—foram fenômenos extremamente seve­ros; b. a aceleração—aconteceram num curto período de tempo; c. a especificação—a terra de Gósen não foi atingida por certas pragas; d. a predição —Moisés podia prever quando a praga ocorreria.
O caráter miraculoso da décima praga consistiu da intervenção divina fornecendo instruções aos israelitas sobre como proceder para que a vida de seus primogênitos fosse poupada.
3.   Entre os milagres de proteção e providência divina no deserto estão: a. a travessia do mar Vermelho; b. a coluna de nuvem durante o dia, e a coluna de fogo à noite, que guiou o povo de Israel no deserto; c. a provisão de água em Mara e Refidim; d. a provisão de alimento: codornizes e maná; e. a entrega dos Dez Mandamentos.

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