Introdução à Segundo Corintios


Devido a questões de gramática e de estilo literário, de emprego de vocábulos, de temas dominantes, a aceitação das quatro obras paulinas clássicas, a saber, Romanos, I e II Coríntios e Gálatas, fica de pé ou rui juntamente. É perfeitamente óbvio que essas quatro epístolas saíram da mesma pena. Os estudiosos que têm feito objeção a esse fato são poucos, não tendo sido levados a sério pela vasta maioria dos eruditos.
No tocante a segunda epístola aos Coríntios, portanto, não existe problema algum que devamos abordar, no que diz respeito à autoria paulina; porquanto todas as considerações garantem-nos que isso não é necessário.
No tocante à coletânea geral dos escritos paulinos, acerca de particularidades sobre quando foram escritos, qual a sua interpretação, etc., o leitor pode examinar o artigo sobre Romanos, seção II, intitulada «As Epístolas de Paulo».
No tocante à segunda epístola aos Coríntios, encontramo-nos em terreno sólido, pois trata-se de uma das obras paulinas clássicas, embora a maioria dos estudiosos modernos pense que temos nessa epístola, na realidade, porções diversas de várias epístolas, embora todas de autoria paulina, e que chegaram até a nossa possessão como um todo composto. (Esse problema, em sua inteireza, é debatido no artigo sobre à primeira epístola aos Coríntios, em sua seção IV, discussão essa que é um tanto ampliada neste artigo, sob o ponto III).
A segunda epístola aos Coríntios, paralelamente à primeira, não consiste essencialmente de uma obra doutrinária, embora ali apareçam algumas das mais elevadas doutrinas do apóstolo Paulo, mas antes, trata-se de ventilação de problemas pessoais surgidos entre esse apóstolo e os crentes de Corinto, juntamente com problemas de ética e de conduta cristã. Portanto, nessas epistolas aos Coríntios encontramos algumas das mais profundas expressões pessoais de Paulo, sendo que nelas podemos perceber, com maior clareza, qual a personalidade e o caráter do apóstolo aos gentios. Outrossim, a segunda epístola aos Coríntios fornece-nos boa dose de material biográfico, que muito nos ajuda a conhecer melhor a vida de Paulo, em pontos que nem ao menos são aludidos no livro de Atos. Portanto, a segunda epístola aos Coríntios se reveste de grande importân­cia, do ponto de vista histórico.
Posto que a primeira e a segunda epístolas aos Coríntios abordam essencialmente as questões relati­vas ao mesmo povo e às mesmas situações históricas, o leitor deveria consultar todo o artigo sobre o livro de primeiro Coríntios, porque muito daquilo que diz respeito à segunda epístola aos Coríntios aparece nos comentários relativos à primeira epístola aos Corín­tios, não sendo reiterado aqui a fim de ser evitada a redundância. Como exemplo disso, a seção III sobre àquela primeira epístola descreve «a igreja de Corinto», as «razões da epístola» e a — correspondência paulina — com Corinto, temas esses que também têm aplicação a segunda epístola. Similarmente, a questão que aparece na segunda seção, «Data e Proveniência», se aplica a segunda epístola, pois Paulo, embora houvesse escrito a segunda epístola de um lugar diferente, provavelmente escreveu a epístola, ou a série de epístolas, depois de poucos meses a contar da escrita da primeira epístola aos Coríntios. Na realidade, a epístola original, escrita à igreja de Corinto, pode ser a que chamamos de I Coríntios, ou pode estar inclusa nela. Na verdade, não sabemos quantas epístolas Paulo lhes escreveu’, e nem quantas visitas lhes fez (certamente houve pelo menos quatro epístolas e três visitas), mas todas elas têm bases geográficas e históricas em comum, pelo menos em termos gerais.
Supõe-se portanto, que antes de haver sido escrita a segunda epístola aos Coríntios, sem importar se a mesma se compõe de uma só ou de várias missivas que vieram a ser transformadas em uma só, já haviam sido escritas pelo menos duas outras epístolas àqueles mesmos crentes. Uma dessas epístolas é aludida no trecho de I Cor. 5:9, da qual uma parte mui provavelmente é preservada em II Cor. 6:14—7:1. Além dessa epístola, Paulo também enviou a que conhecemos por I Coríntios e que essencialmente forma uma única epístola, — sobre cujo particular concordam praticamente todos os eruditos. Além disso, Paulo havia recebido pelo menos uma missiva da parte dos crentes de Corinto. Outrossim, esse apóstolo igualmente enviara Timóteo, em missão intercessora, a fim de procurar solucionar os problemas surgidos naquela igreja, missão essa que não produziu resultados positivos evidentes. O próprio Paulo já visitara aquela igreja por mais de uma vez, segundo se entende claramente de suas palavras em II Cor. 12:14: «Eis que pela terceira vez estou pronto a ir ter convosco…»
 Não sabemos, entretanto, como situar essas visitas, porque o livro de Atos não nos ajuda nesse particular; mas certamente as visitas subsequentes de Paulo àquela comunidade foram feitas depois que ele escrevera a primeira epístola aos Coríntios, com o propósito de encontrar solução para os dificílimos problemas existentes naquela congregação cristã. Finalmente, a combinação de sua «epístola severa» (ver II Cor. 10:10) e a obra mediadora de Tito (ver II Cor. 7:11,15), nos apresentam soluções razoáveis, que teriam sido encontradas para os problemas mais árduos daquela igreja de Corinto.

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