Introdução a Primeira Corintios


Ver algumas observações gerais sobre o corpus das Epístolas Paulinas no artigo sobre Romanos, primeiros parágrafos e na secção II.
A primeira epístola aos Coríntios é um dos escritos clássicos de Paulo; acima de tudo ela preserva para nós não tanto a doutrina cristã, e, sim o padrão da ética cristã. Neste livro encontramos os problemas enfrentados pelos primeiros cristãos gentios, e como Paulo deu solução a esses problemas. As epístolas aos Romanos e outras revelam com maior aptidão a elevada mente de Paulo; mas nenhuma delas revela mais claramente do que I Coríntios aquilo que os psicólogos modernos gostam de chamar de «situações de vida real». Diferentemente daqueles problemas que Paulo tentou solucionar para os crentes da Galácia, que eram sobretudo questões de opinião religiosa, este livro aborda antes questões relativas à conduta cristã, questões morais da mais séria natureza. Paulo, homem de formação essencialmente judaica, tendo recebido ideias ainda mais elevadas por causa das revelações que recebeu acerca do cristianismo, ficava perplexo ante os costumes tolerados na igreja em Corinto, e que eram praticados por membros firmes da mesma.
Caráter da Primeira Epístola aos Coríntios. A fim de poder discernir o tipo de situação que o apóstolo Paulo enfrentou, o leitor faria bem em examinar as notas expositivas no NTI sobre Corinto e sobre o ministério de Paulo nessa cidade (Atos 18:1), bem como as notas introdutórias gerais sobre esse citado capítulo. Estrabão revela-nos que havia mil prostitutas religiosas oficiais associadas aos cultos religiosos daquela cidade, que tinham por principais divindades a Mãe Suprema, Melcarte, Serápis, lsis e Afrodite. Naturalmente, isso atraía a Corinto um avantajado número de turistas. Todavia, isso não expressava toda a situação moral da cidade, porquanto muitos de seus habitantes ocupavam-se de seus empreendimentos particulares. Viver como um coríntio se tomou uma expressão proverbial para indicar uma vida de dissipação moral. Alcifrom escreveu em suas memó¬rias: «jamais estive em Corinto, porquanto sei bem qual o tipo animalesco de conduta os ricos desfrutam ali, e qual a miséria dos pobres». A população da cidade de Corinto era a mais cosmopolita dos centros gregos, e, de fato, era menos distintamente helénica do que todas as outras cidades, tendo incorporado em sua estrutura todos os vícios do paganismo, e isso de forma exagerada.
O incisivo primeiro capitulo da epístola aos Romanos foi escrito sob a influência da cultura coríntia, visto que essa epistola foi escrita em Corinto; e a simples leitura desse citado capítulo mostra-nos a atitude mental provocada no apóstolo pela observação dos espantosos vícios do paganismo que ali havia.
Embora existisse na mesma localização, a cidade que Paulo conheceu não descendia diretamente daquela que encabeçara a liga aqueana, durante o período helenístico. Aquela primeira cidade fora destruída em cerca de 146 A.C., por Lúcio Múmio, tendo ficado em ruínas por cem anos. A cidade foi então reconstruída, provavelmente por ordem de Júlio César, tendo-se tomado colônia romana. Os romanos, por conseguinte, é quem tinham reedificado a cidade de Corinto; e bastaria isso para explicar por que, dentre todas as cidades gregas, Corinto era a única que dispunha de um anfiteatro, uma das construções favoritas dos romanos. Por essa mesma razão é que muitos dos nomes pessoais, associados a Corinto, que se podem encontrar nas epístolas de Paulo aos crentes dessa cidade são de origem latina, e não grega, como Crispo, Tito Justo e Fortunato. Por semelhante modo, a maioria das inscrições atualmente achadas nessa cidade são latinas, e não gregas. A própria cidade, entretanto, não demorou a caracterizar-se como cidade cosmopolita, incluindo uma numerosa colônia judaica. Ver o artigo sobre Corinto.

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