Introdução as Epístolas Patorais


Esse título coletivo, que indica a Primeira e a Segunda Epístolas a Timóteo e a Epístola a Tito, foi dado às mesmas desde o século XVIII. Trata-se de apropriada designação para as mesmas, porquanto abordam problemas eclesiásticos, tendo por intuito ajudar os pastores em seu trabalho, especialmente no ministério do ensino e na vigilância em favor da igreja cristã, mormente no tocante aos assédios dos ensinamentos falsos. Essas epístolas tratam essencialmente de temas de natureza prática, como a ordem e a disciplina eclesiásticas, a seleção dos oficiais da igreja e o caráter e os deveres dos membros da comunidade cristã. Essas três epistolas estão  intimamente entrosadas, em sua estrutura, fraseolo­gia e propósitos, que não podem ser encaradas como unidades separadas. Por isso mesmo, este artigo é para as três, ainda que apareçam qualidades distintas em cada uma.
Com base em questões como pontos gramaticais e estilo literário, vocabulário e temas, são universal­mente considerados como escritos clássicos paulinos, as epístolas aos Romanos, Primeira e Segunda aos Coríntios e Gálatas. A aceitação de qualquer dessas como paulina exige a aceitação de todas as demais; e, vice-versa, a rejeição de uma delas exige a rejeição de todas, tão convincentes são as evidências internas de que procederam da mesma pena inspirada. Por essa razão, pouquíssimos em extremo têm sido os críticos que se têm aventurado a negar a origem e a natureza autenticamente paulina dessas citadas epístolas. Ainda outras cinco epístolas têm sido adicionadas a essa lista com pequena hesitação, tanto por estudiosos liberais como por conservadores, por críticos antigos ou modernos. Essas cinco outras são Filipenses, Colossenses, Primeira e Segunda aos Tessalonicenses e Filemom. Portanto, nada menos de nove epístolas são aceitas como paulinas com pouca disputa. Depois dessas nove epístolas citadas, surge a epistola aos Efésios, que a maioria dos eruditos conservadores acolhe como paulina, com o que concorda uma minoria de estudiosos liberais. (Ver o artigo sobre a epístola aos Efésios, sob o titulo Autoria, quanto a uma discussão acerca desse problema). E as epístolas que vinham sendo reputadas como paulinas desde tempos antigos, mas que vieram a ser postas em dúvida como tais, por questões de estilo, de vocabulário e de algum conteúdo que parece refletir uma situação pós-apostólica, são a Primeira e a Segunda epístolas a Timóteo e a epístola a Tito. As discussões abaixo abordam amplamente esse proble­ma inteiro.
As Epistolas da Prissão: Dentre as treze epístolas comumente atribuídas ao apóstolo Paulo, sete são reputadas «epístolas da prisão», o que significa que foram elas escritas estando ele encarcerado. No entanto, em tempos modernos, não há concordância, entre os eruditos, de que todas essas epístolas foram escritas na cidade de Roma, conforme dizia a ideia antiga, mas que se tomou sujeita a objeções sérias. Sabemos que o apóstolo dos gentios esteve aprisiona­do em Jerusalém, em Cesaréia, em Roma e provavel­mente, em Êfeso. E bem possível que essas epístolas—Filipenses, Efésios, Colossenses, I e II Timóteo, Tito e Filemom—não foram escritas na mesma cidade, e nem mesmo na mesma época, conforme o demonstram as considerações internas. As circunstâncias eram diferentes, as expectações con­cernentes à soltura do apóstolo eram diferentes, a gravidade da situação de Paulo era diferente, e até mesmo os companheiros de Paulo eram diferentes; de onde se conclui que é quase certo que os «lugares» e as «ocasiões», ligadas a essas diversas epístolas, também eram diferentes. Dentre essas sete epístolas, aquelas aos Colossenses, aos Efésios e a Filemom formam um grupo comum. Muitos eruditos acredi­tam, hoje em dia, que isso reflete um período anterior de aprisionamento, que importava em menor perigo, e que talvez tenha ocorrido em Êfeso. A epístola aos Filipenses poderia ter sido escrita durante o «primeiro» aprisionamento em Roma, e estas epístolas «pastorais», se foram genuinamente paulinas, pode­riam ter sido escritas em um «segundo» período de aprisionamento, e que conduziu ao martírio do grande apóstolo. A primeira epístola a Timóteo poderia ter sido escrita durante o intervalo entre esses dois períodos de encarceramento (ver I Tim. 3:14), o que também pode ter sido o caso da epístola a Tito (ver Tito 3:12), mas a segunda epístola a Timóteo reflete a expectação pelo fim, uma missão terminada, a coroa do martírio (ver II Tim. 4:6 e ss). (Quanto a detalhes acerca da «proveniência» e da «data» das três epistolas aos Colossenses, aos Efésios e a Filemom, ver as discussões a respeito no artigo sobre a epístola aos Colossenses. Quanto a essas mesmas questões, referentes às «epístolas pastorais», ver sob «Data e Proveniência», nas notas expositivas mais abaixo).
Em termos bem amplos, as epístolas paulinas têm sido divididas em dois grupos, a saber, as primeiras e as últimas. Nas «primeiras» são postas todas as suas epístolas, com exceção das «epístolas da prisão», isto é, Gálatas, I e II Tessalonicenses, I e II Corintios e Romanos. O grupo das «últimas» inclui aquelas epístolas tratadas acima, dentre as quais as epístolas pastorais surgem em último lugar. Esse tipo de classificação, entretanto, em tempos recentes, tem sido reputada altamente artificial, porquanto algu­mas das epístolas da «prisão» podem ter sido produzidas relativamente «cedo» na carreira ministe­rial de Paulo, em alguma prisão que não a da cidade de Roma.
Normalmente, se tem pensado ser correto colocar a primeira e a segunda epístolas aos Tessalonicenses no inicio cronológico da coletânea paulina; mas existem bons argumentos para que essa posição seja ocupada pela epístola aos Gálatas. Parece quase certo que a epístola aos Gálatas foi escrita antes do «concilio de Jerusalém», talvez tão cedo quanto o ano de 48 D.C. (Quanto a explicações sobre essa questão, ver o artigo sobre esse livro, sob Data). Pelo menos a primeira e a segunda epístolas aos Tessalonicenses ocorreram pouco mais tarde, embora antes de todas as demais epistolas de Paulo. Pode-se supor, por conseguinte, a seguinte ordem para as epístolas de Pauto: a. Gálatas, em cerca de 48 D.C.; b. I e II Tessalonicenses, em 50—51 D.C.; c. então o grupo formado por Colossenses, Efésios e Filemom, em cerca de 54 D.C., escritas durante um período de aprisionamento anterior ao de Roma; d. então I e II
Corintios e Romanos, em 54—57 D.C., embora alguns estudiosos situem-nas tão cedo quanto 52 D.C. Segue-se então Filipenses, produzida em Roma, durante o «primeiro» aprisionamento ali, em cerca de 61—63 D.C.; f. finalmente, surgem as «epístolas pastorais», escritas durante o «segundo» aprisionamento, em 65—68 D.C., embora a primeira epístola a Timóteo e a epístola a Tito possam ter sido escritas no intervalo entre esses dois aprisionamentos. Alguns eruditos pensam que o primeiro aprisionamento de Paulo ocorreu já em 58 D.C. Nesse caso, todas as datas aqui propostas teriam de ser igualmente adiantadas. No tocante à cronologia do N.T., devemo-nos lembrar que várias das epístolas paulinas antecederam aos evangelhos, ou mesmo a qualquer outro livro neotestamentário, pelo que também são os primeiros grandes escritos que deram inicio àquela soberba série de documentos que, finalmente, veio a formar nosso N.T.

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