Introdução ao Livro de Colossenses


Com base em estilo gramatical e literário e no uso de palavras e de temas, as epistolas aos Romanos, I e II aos Coríntios e Gálatas são universalmente aceitas como clássicos paulinos. A aceitação de uma delas como paulina requer a aceitação de todas, e vice-versa, a rejeição de uma delas requer a rejeição de todas, tão convincente ê a evidência interna de que procedem da mesma pena. Por isso mesmo é que pouquíssimos têm sido os críticos que se tem aventurado a negar a origem e a natureza autentica­mente paulinas dessas quatro epístolas. Outras cinco epístolas têm sido acrescentadas a essa lista, com pouca hesitação, por estudiosos liberais e conserva­dores, antigos e modernos. São elas Filipenses, Colossenses, I e II aos Tessalonicenses e Filemom. Sobre o corpus paulino, ver o artigo sobre Romanos, primeiros parágrafos, e seção II.
Dentre as treze epístolas comumente atribuídas a Paulo, sete são reputadas «epístolas da prisão», ou seja, aquelas que supostamente o apóstolo dos gentios teria escrito quando era prisioneiro. Desde os tempos antigos, tomou-se costume supor que todas essas epístolas foram escritas em Roma, lugar onde Paulo passou seu mais prolongado e famoso período de encarceramento. Os eruditos modernos, entretanto, têm pensado ser possível, ou até mesmo provável, que algumas das chamadas «epístolas da prisão» foram escritas em outros lugares onde Paulo esteve aprisionado, como Cesaréia ou Éfeso. As epistolas da prisão são Filipenses, Efésios, Colossenses, Filemom, I  e II a Timóteo e Tito. Quando se investiga de perto o conteúdo das mesmas, especialmente observando-se os companheiros de Paulo, além de algumas circunstâncias prevalentes, parece quase certo que nem todas essas epístolas foram escritas na mesma cidade, sob as mesmas circunstâncias, e nem na mesma época em geral.
Uma coisa, porém, é certa — as epístolas aos Colossenses, Efésios e Filemom formam uma unidade distinta, tendo sido escritas na mesma época, sob as mesmas circunstâncias, ou seja, foram compostas na mesma localidade. Essa questão é discutida no artigo sobre cada uma dessas epístolas, mas, especialmente, na seção.II do presente artigo, sob o título Proveniência. Dentre essas três epístolas, Colossenses é ordinariamente considerada como a de maior importância e autoridade, a despeito do fato que a epístola aos Efésios, na realidade, é mais sublime. As dúvidas, entretanto, que alguns têm lançado sobre sua autoria paulina, de acordo com o parecer de alguns eruditos, têm-na feito perder o lugar de primeira importância entre as três, e de fato, entre a coletânea paulina inteira, o que, de outra maneira, certamente teria desfrutado. Este artigo defende a autoria paulina da epistola aos Efésios, por razões declaradas no artigo sobre aquele livro, sob o título Autoria. Com ou sem essa afirmação, a epístola aos Efésios é um livro sem comparação. Contudo, a epístola aos Colossenses compartilha de alguns de seus mais profundos raciocínios no tocante à redenção humana. Pelo menos no tocante a certas questões, ela apresenta uma visão mais elevada da pessoa de Cristo do que o faz a epístola aos Efésios ou qualquer outro livro do N.T. Melhor é a epístola que mais exalta a Cristo; por essa razão, pois, os capítulos primeiro e segundo da epístola aos Colossenses e o primeiro capitulo da epístola aos Efésios, são os «melhores».
Colossos era uma cidade pertencente à província romana da Ásia, na parte ocidental do que agora é a Turquia Asiática, situada cerca de dezesseis quilometros do vale de Lico, partindo-se de Laodicéia, às margens da estrada principal de Éfeso para o oriente. Originalmente, ocupava o ponto onde se dividiam as estradas para Sardes e Pérgamo. Nos tempos antigos foi uma importante cidade do reino Lídio e, posteriormente, do reino de Pérgamo. Quando Roma construiu uma estrada até Pérgamo, que ficava um pouco mais a leste, deixando de lado Colossos, esta perdeu muito de sua anterior importância. Foi nessa época que Laodicéia tomou-se cidade maior e mais próspera. O local da antiga cidade de Colossos é, atualmente, desabitado. Essa cidade ficava situada a dezesseis quilômetros a leste da moderna aldeia de Denizli.
Evidentemente Paulo não foi o fundador da igreja de Colossos, segundo se depreende de Col. 1:4 e 2:1, passagens que subentendem que ele não conhecia pessoalmente a maior parte de seus leitores. Ê provável que o evangelho tenha chegado até eles quando Paulo vivia em Éfeso (ver Atos 19:10); e isso talvez mediante os serviços de Epafras, que era colossense (ver Col. 1:7 e 4:12,13). Ê patente que o desejo que Paulo tinha de visitar esse lugar se cumpriu (ver File. 12), em algum tempo posterior. Filemom e seu escravo, Onésimo, também eram membros dessa igreja (ver File. 1:10 e Col. 4:9).
A grande cidade de Éfeso ficava cerca de cento e setenta quilômetros para oeste; Laodicéia ficava a dezesseis quilômetros para oeste e ambas essas cidades vizinhas vieram a eclipsar Colossos antes dos tempos de Paulo, embora todas elas ainda estivessem intimamente associadas entre si pelos laços do comércio, especialmente vinhos, fazendas tingidas e lã, que eram seus principais produtos de exportação. Colossos mui provavelmente, era a cidade de menor importância para onde Paulo escreveu uma de suas epístolas.
A maior parte dos crentes de Colossos se compunha de gentios (ver Col. 1:27 e 2:13); porém, desde os tempos de Antíoco, o Grande, havia uma numerosa e influente população judaica ali. Contudo, os pro­blemas que vieram a afligir a comunidade cristã ali existente não eram de origem judaica. Esta epístola foi escrita para combater o gnosticismo (ver o artigo sobre Gnosticismo) ensinamento esse que tinha base nas religiões orientais misteriosas, de invenção gentílica. Oito livros do N.T. foram escritos como defesa da fé cristã, diante dos assédios do gnosti­cismo. São eles: essa epístola, as três epístolas pastorais, as três epístolas joaninas e a epístola de Judas. O evangelho de João, o livro de Apocalipse e a epístola aos Efésios também aludem a essa antiga heresia, embora não tivessem sido primariamente escritos a fim de combatê-la.

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