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Posto que as fórmulas de crença na alma não faziam parte origina! Da herança judaico-cristã, a ideia dualista sobre «corpo e alma», com descrição da personalidade humana, que de modo geral se vê já no fim do A.T., e em todo o N.T., na realidade foi tomada por empréstimo da filosofia grega, principalmente de Platão, por meio do neoplatonismo. O judaísmo e o cristianismo, pois, simplesmente reputaram isso como uma verdade, sem qualquer tentativa de expandir a questão, mormente sobre a «natureza» do homem, ainda que muito tenha sido acrescido acerca do destino humano, mediante a revelação divina, visto que essa é a tese primordial desses documentos sagrados. Não é de surpreender, portanto, descobrirmos que a maioria dos teólogos cristãos primitivos se compunha dos que criam na teoria «dicotomista», pois muitos deles eram ou filósofos neoplatônicos convertidos ao cristianismo ou estavam sob a influência dessas ideias conforme era o caso de Justino Mártir, de Clemente de Alexandria, de Orígenes e de Agostinho. Outrossim, não é surpreendente descobrirmos que a maioria dos teólogos subsequentes do cristianismo tenha conservado a mesma posição. Ocasionalmente, por causa da influência de I Tes. 5:23, e de alguns poucos outros que lhe são similares (ver Heb. 4:12 e Luc. 1:46,47), alguns teólogos cristãos têm postulado um complexo de energias em três níveis, como aquilo que caracteriza a natureza do ser humano. Mas essa posição, embora certamente esteja mais próxima da realidade do que a posição anterior (segundo os modernos estudos no campo da parapsicologia bem o têm demonstrado), não tem encontrado muitos aderentes, nem mesmo na igreja, provavelmente porque lhe falta a tradição necessária e a base teológica e filosófica antiga.
Platão opinava que a alma humana participa do espírito eterno, embora tivesse havido um ponto, dentro do tempo, quando ocorreu a individualização, sendo assim formada uma personalidade distinta. Para ele, pois, a alma seria eterna, jamais tendo sido criada em sua substância básica, pois realmente faria parte de uma divindade universal. O corpo foi dado à alma depravada como castigo, áinda segundo o ponto de vista de Platão, como um veiculo para a alma usar neste mundo de matéria crassa, e no qual o homem se vê aprisionado até que, devido à purificação suficiente, seria libertado para poder escapar para as dimensões puramente espirituais. Outros creem que o corpo é um produto da evolução, que se teria originado da criação animal, e que a alma, ao descer, ao passo que o corpo vai ascendendo na escala animal, finalmente encontra um lugar de habitação na matéria, por intermédio do corpo físico. Mas essa residência da alma, neste mundo de matéria grosseira, — seria indigna para ela, de onde se concluiria que tal situação lhe foi dada como punição. E a finalidade de toda a conduta ética seria libertar a alma desse nível de matéria crassa, a fim de que pudesse ela buscar ao bem e a Deus, a fim de vir a ser finalmente absorvida em Deus, para que o «ego» pudesse tornar-se novamente o «superego», e assim viesse a possuir novamente a consciência de Deus.
Platão dividiu a personalidade humana em três partes: vegetal (a matéria do corpo); ânimo (evidentemente um atributo da alma), a coragem para enfrentar os problemas éticos da vida, e vencer; racional, o princípio espiritual, a alma. Estas divisões sugerem um homem triúno, mas não temos provas de que Platão quis ensinar esta metafísica com estes termos.
Aristóteles dividia a alma em seus aspectos animal e racional, ou seja, aquilo que ela tem em comum com o que é animal e com o divino. E para ele o divino consistiria de «pensamento puro a pensar de si mesmo». Essa divisão seria uma espécie de base filosófica para a posição da «tricotomia»; mas a teologia cristã nunca lançou mão decididamente dessa base. Pelo menos Tomás de Aquino, alicerçado sobre Platão e Aristóteles, acreditava que a alma é de origem «celestial», o que significa que sua origem seria diferente da do corpo (o que é contrário à posição do «traducionismo», o qual diz que a alma é transmitida aos filhos no ato da concepção). Entretanto, Tomás de Aquino não dividia claramente a personalidade humana em três componentes, o que poderia ter feito se porventura tivesse desenvolvido a sugestão de Aristóteles.
Uma forma radical de dicotomia tem sido desenvolvida por filósofos como Spinoza e Leibniz.
Nos escritos deste último, por exemplo, não se vê nenhuma «interação» entre o corpo e a alma. Pelo contrário, a personalidade humana seria uma «mônada», onde todas as supostas características de corpo e espírito teriam sido «preestabelecidas» por Deus, como ocorrências «paralelas», sem envolvimen­to algum de causa e efeito. Normalmente, entretanto, pensa-se que o corpo e a alma, as duas partes distintas do homem, sem importar se têm origem comum ou não, reagem e ineragem entre si, em face do estímulo de uma sobre a outra.

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