Filemon e Onésimo


Filemom,  Podemos supor que ele residia em Colossos (ver Col. 4:9, que identifica aquela localidade com Onésimo), embora alguns eruditos tenham conjecturado Laodicéia. Ele era o proprietá­rio de Onésimo, o escravo fugitivo. O próprio Filemom se converteu através do ministério direto de Paulo, ou através de seu ministério em Éfeso, que ficava próximo, e onde Paulo permaneceu por quase três anos (ver File. 19). É possível que Epafras (ver Col. 4:12) tenha sido usado como instrumento de sua conversão. O próprio Paulo, até onde nos leva a narrativa do N.T., não visitara Colossos (ver Col. 2:1); mas o seu trabalho em Éfeso se espalhara por todas as regiões circunvizinhas da Ásia Menor, a moderna Turquia. Éfeso era a capital provincial da área (ver Atos 19:31), sendo ponto natural de comunicação com as áreas circunvizinhas.
Como é usual, a tradição preenche os hiatos com suas informações, às vezes corretas, mas mais frequentemente, errôneas. Ali aprendemos que Filemom foi bispo de Colossos, tendo finalmente morrido como mártir, sob Nero.
Parece que Filemom era homem de amplos recursos financeiros, desde que é apresentado como cabeça de casa numerosa. Era homem de caráter nobre, conforme o indica essa minúscula epístola. Alguns inferem, com base nos versículos primeiro e segundo dessa epístola, que Afia era sua esposa, e que Arquipo era seu filho; mas, acerca disso não há provas. Alguns têm pensado que a epístola realmente fora dirigida a Arquipo, que seria o cabeça da igreja em Colossos (ver Col. 4:24), ou da igreja próxima de Laodicéia; e isso indicaria que Onésimo era seu escravo, e não escravo de Filemom. Isso também significaria que a epístola deveria ser intitulada «a Arquipo», e não «a Filemom». Porém, visto que Filemom encabeça as saudações, na lista das mesmas, é mais provável que Paulo se tenha dirigido primordialmente, a ele. Todavia, ele pode não ter sido o cabeça da igreja que se reunia na «casa», sendo possível que a casa mencionada fosse a de Arquipo, e não a de Filemom. Se porventura esses dois eram pai e filho, então era a casa de Filemom. Pequenos detalhes dessa espécie não podem ser claramente definidos, porquanto nos faltam quaisquer  informações claras a esse respeito. Essa «casa» era mostrada às pessoas curiosas até os tempos de Teodoreto (420 D.C.), mas essa identificação, que serviria mais para atrair turistas, provavelmente nunca foi autêntica.
Onérimo. Ele era o escravo fugitivo de Filemom (ou de Arquipo?). Conheceu a Paulo em Éfeso (ou Roma? ou Cesarêia?), onde este último estava aprisionado, tendo sido convertido ao cristianismo pelo apóstolo. (Ver File. 10). Não demorou que se tomasse irmão digno de confiança, útil para Paulo (ver Col. 4:9 e File. 11). Seu nome significa útil (nome comum dado a escravos); e as observações de Paulo a esse respeito envolvem um jogo de palavras. Foi preciso que se convertesse a Cristo para que se tomasse digno de seu nome. Segundo as leis e as práticas do mundo daquela época, Onésimo poderia ter sido facilmente executa­do, e até mesmo crucificado; pelo que também Paulo apelou para o senso de humanidade de Filemom, a fim de que tratasse Onésimo com gentileza. É patente, na epistola a Filemom, que o intuito real de Paulo era o de obter a liberdade de Onésimo, a fim de que servisse como cooperador do apóstolo, e não meramente apelar à compaixão de Filemom (ver os versículos treze e catorze). Alguns supõem que o «ministério» que Arquipo deveria cumprir seria o de libertar Onésimo, a fim de que viesse servir em companhia de Paulo (ver Col. 4:17); mas essa é interpretação extremamente duvidosa sobre esse versículo, exigindo, igualmente, outros pensamentos duvidosos, como o que a epístola foi dirigida a Arquipo, e não a Filemom. Alguns dos que defendem essa teoria, pensam que a libertação de Onésimo visaria tomá-lo o substituto de Arquipo, como supervisor de Colossos (ou de Laodicéia). Mas essa possibilidade parece ainda mais remota.
O trecho de Col. 4:9 indica que Onésimo, juntamente com Tíquico, fora portador das epistolas aos Efésios, aos Colossenses e a Filemom. As tradições fazem dele bispo de Beréia, onde se diz que ele sofreu o martírio (ver Constituições Apostólicas vii.46). Sua memória foi preservada pela igreja latina, na data de 16 de fevereiro, ao passo que a igreja grega prefere 15 de fèvereiro; e esta última também lembra Filemom, Ãfia e Arquipo, juntamente com Onésimo, 22 de novembro. — Várias tradições circundam esses personagens, segundo a Acta Sanctorum (ii, 855-859); mas poucas, ou mesmo nenhuma dessas tradições é autêntica.
Alguns eruditos têm identificado o Onésimo dessa epístola com o bispo de Éfeso do tempo de Inácio (110 D.C.). E possível que ele tenha vivido tanto tempo; e mesmo antes desse tempo pode ter-se mostrado ativo em vários lugares da Ásia Menor, até que chegou em Éfeso. Supondo-se que uma primitiva coletânea de epístolas paulinas tenha sido feita em Éfeso, é possível que Onésimo tenha sido o poder por detrás da mesma. Seria natural, pois, que essa pequena epístola tivesse sido preservada, por ter sido escrita acerca da pessoa do colecionador da coletânea paulina, que posteriormente veio a ser canonizada, essencialmente conforme foi coligida. Se essas conjecturas dizem a verdade, então Onésimo teve a importante função de preservar as epístolas de Paulo para a igreja e para o mundo, como um dos primeiros fatores da canonização de todo o N.T. Todavia, tudo isso é pura conjectura, e, apesar de apoiada por nomes significativos, do campo da interpretação do N.T., nunca obteve qualquer coisa parecida com aceitação universal.
Se essa teoria é verídica, porém, então a epístola a Filemom, apesar de pequena, se reveste de singular importância, por ter sido aquela missiva que trouxe Onésimo até Paulo, produzindo a sua liberdade como ministro do evangelho. Em gratidão a isso, Onésimo teria exaltado a seu mestre, Paulo, tendo servido como instrumento de preservação de suas epistolas, como coletânea que posteriormente foi canonizada.

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