Existem evidências arqueológicas de que os hititas habitavam o sul da Palestina nos tempos dos patriarcas?


Gênesis 23 declara que hititas controlavam a região de Hebrom nos tempos de Abraão. Cinco ou seis séculos mais tarde, os doze espias relataram a Moisés e ao povo hebreu (Nm 13.29) que havia assentamentos hititas na parte montanhosa da terra de Canaã. No entanto, visto que o principal centro do poder desse povo estava na Ásia Menor, sendo sua capital Hattusas (Boghazkoy) e visto que ele se deslocou pela primeira vez ao Oriente Próximo no reinado de Mursilis i (1620-1590 a.C.) e saqueou a grande metrópole de Babilônia, por volta de 1600, muitos estudiosos modernos têm questionado a presença de hititas na Palestina, nessa época (2050 a.C), quando Sara foi enterrada na caverna de Macpela. No entanto, evidências arqueológicas indicam também que os hititas subjugaram muitos dos reinados da Síria ou impuseram-lhes vassalagem; e nos dias de Ramessés ii, do Egito, houve uma declaração de intenções séria com Muwatallis (1306-1282 a.C), do novo reino hitita, e celebrou-se um notável pacto de não-agressão entre os dois superpoderes, cujo texto se preservou nas línguas egípcia e hitita. Esse tratado foi redigido de modo que o norte da Síria coube aos hititas, e o sul, mais a Palestina inteira, ficou sob a influência do Egito (cf. G. Steindorff e K. C. Seele, When Egypt ruled the East, Chicago, Univ. de Chicago, 1942, p. 251).

Descobertas arqueológicas mais recentes indicam que houve uma conquista maior na direção do sul, além da que esse tratado mostra, com atividades mais antigas da parte dos hititas, anteriores ao antigo e ao novo reino desse povo. Foram recuperadas umas tantas tabletas com escrita cuneiforme, de natureza comercial, em Kültepe (antiga Kanesh), na Capadócia, ali deixadas por primitivos comerciantes assírios, entre 1950 e 1850 a.C. (Vos, Archeology, p. 314). Mas até mesmo antes da chegada de imigrantes indo-europeus anatólios (que falavam nesili), havia uma raça primitiva dos descendentes de Hete, cuja origem não se situava no contexto indo-europeu. Eles foram conquistados por invasores em 2300-2000 a.C. que, subseqüentemente, adotaram o nome de “filhos de Hete” (ra) para si mesmos, a despeito das diferenças lingüísticas e culturais entre eles e seus antecessores.
O. R. Gurney, eminente especialista em estudos hititas, sugere que os filhos de Hete ter-se-iam espalhado por outras regiões além da Ásia Menor e estabelecido colônias em áreas longínquas, ao sul, na Palestina (Tenney, Zondervan pictorial encyclopedia, 3: 710). (Observe-se que “Hati” e “Hiti” eram grafados com as mesmas consoantes antes da era cristã; as vogais só eram conhecidas pela tradição oral.) Em 1936, E. Forrer propôs, com base num texto hitita do rei Mursilis ii (cerca de 1330 a.C), que um grupo desse povo havia migrado para o território egípcio (i.e., regiões da Síria e da Palestina sob controle do Egito) mais cedo, no segundo milênio (cf. Encyclopaedia Britannica, 14. ed., s.v.”hititas”; Tenney, Zondervan pictorial encyclopedia, 3: 169-170).
A conquista militar ao sul da cordilheira de Tarso iniciou-se no século xvii a.C, sob Labarnas; Mursilis i conseguiu destruir Alepo, na Síria, chegando a invadir Marti e saquear os hurrianos na parte superior do Eufrates. Todavia, os “hititas” de Gênesis teriam tido pouca coisa em comum com esse povo indo-europeu, os conquistadores de língua nesili, mas é provável que tenham sua origem nos filhos de Hete, os quais historicamente os precederam na Ásia Menor. Pouco se pode concluir a partir dos nomes que se encontram em Gênesis 23, visto que Efrom e Zoar aparentemente são semíticos e cananeus — indicativos de uma assimilação fácil da cultura regional por esses colonos “hititas” de Hebrom.
Há referências posteriores aos hititas na história de Israel. Na invasão comandada por Josué, eles se opuseram às tropas israelitas (Js 9.1, 2; 11.3), mas provavelmente foram aniquilados pelos conquistadores hebreus. No entanto, nos dias de Davi, havia pelo menos alguns hititas, os quais forneciam soldados para o exército de Israel. Dentre eles estava Urias, marido de Bate-Seba, um crente piedoso que adorava a Iavé (2Sm 11.11). Salomão julgava que os neo-hititas tinham suficiente importância política para admitir em seu harém algumas de suas princesas (1Rs 11.1). Posteriormente, por volta de 840 a.C., Ben Hadade de Damasco conduziu suas tropas numa fuga precipitada do cerco de Samaria, ao afirmar: “O rei de Israel contratou os reis dos hititas [...] para nos atacarem” (2Rs 7.6).
No início do ano 1000 a.C. vários reis do norte da Síria (cujos territórios haviam feito parte do império hitita em séculos anteriores) tinham nomes como Sapalulme (Supiluliumas), Mutalu (Muwatalis), Lubarna (Labarnas) e Catuzili (Hatusiles). Daí se deduz que teriam prosseguido até certo ponto na tradição hitita, embora por essa altura já houvessem adquirido sua independência. Dentre as figuras de destaque “neo-hititas” da Síria estavam Tuwana, Tuna, Hupisna, Shinuktu e Ishtunda (Tenney, Zondervan pictorial encyclopedia, 3: 168). Esses nomes aparecem nos registros em escrita cuneiforme (em grande parte assíria) do tempo da monarquia hebraica dividida.

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