Ênfase Apologética; interesses e propósitos Teológicos


1.   Que o cristianismo não é um ramo herético do judaísmo, mas antes, uma elevação e melhoria do judaísmo, com raízes profundas no mesmo, mas retendo apenas os elementos nobres e úteis, ficando rejeitados todos os seus males, especialmente a apostasia para a qual havia decaído, como também o seu escopo provincial.
2.   Mostrar aos líderes romanos que o cristianismo não deveria ser temido e perseguido, como ameaça ou movimento traiçoeiro ao estado romano; pelo contrário, que era digno da proteção romana, com permissão de funcionar livremente, tal como o judaísmo havia obtido de seus conquistadores militares.
Por este motivo é que o livro de Atos apresenta os oficiais romanos como ordinariamente favoráveis aos movimentos dos missionários cristãos. Embora Lucas houvesse escrito após Paulo haver sido martirizado, e a perseguição de Roma contra os cristãos já houvesse começado, ele não ignora e nem põe em perigo o seu propósito apologético encerrando o seu livro numa atitude negativa, a saber, narrando a execução do maior advogado do cristianismo às mãos das autoridades romanas. (Ver Atos 18:12-17, onde se expõe a idéia da proteção do cristianismo, pelas autoridades romanas, tal como o judaísmo já vinha sendo protegido pelas leis do império). Lucas, portanto, quis mostrar que os levantes e as perturbações de ordem pública que seguiam na cauda do movimento dos missionários cristãos resultavam das perseguições efetuadas pelos judeus, e não de qualquer espírito malicioso dos próprios cristãos. Lucas endereçou a sua dupla obra (Lucas-Atos) a um oficial romano, de nome Teófilo; por conseguinte, dirigiu seu trabalho à aristocracia romana, esperando que se os argumentos ali contidos fossem recebidos e digeridos, o novel movimento cristão viesse a ser protegido, e não perseguido. Todavia, o seu grande alvo fracassou, porque sobrevieram severas e pro­longadas perseguições, desde muito tempo antes do evangelho de Lucas e do livro de Atos terem sido escritos e postos em circulação.
Interesse Teológica:
As atividades e orientações do Espirito Santo dominam o livro de Atos, e isso o torna diferente dos evangelhos sinópticos (com exceção parcial do evangelho de Lucas), mas o evangelho de João também possui essa característica, tal como sucede às epístolas de Paulo. As manifestações sobrenaturais que acompanharam a propagação do evangelho significavam não meramente as atividades do Espírito de Deus naquela época, mas também a inauguração de uma nova era, quando os homens haveriam de ser dirigidos diretamente, cheios e controlados pelo poder do alto—o poder do Espírito Santo. Outros interesses teológicos de menor monta, que dominam o quadro apresentado pelo livro de Atos, são a descrição acurada da ascensão do Senhor Jesus, que se faz inteiramente ausente nos quatro evangelhos, a universalidade da mensagem cristã, a ênfase posta sobre os elementos mais pobres e desprezados da sociedade, e como todos podem tornar-se beneficiá­rios das mesmas boas novas de Deus.
Um outro interesse teológico, que na realidade incorpora a atuação do Espírito Santo no seio da igreja cristã e no mundo, é aquele que demonstra a redenção de âmbito universal, possibilitada pela mensagem da cruz, pregada pela igreja cristã, que exalta a pessoa de Cristo Jesus. Esse é, por semelhante modo, um elevado interesse teológico do evangelho de Lucas.
Propósito do livro de Atos:
1.   Alvos históricos — Lucas tencionava demonstrar como a igreja cristã se propagara de seu centro, em Jerusalém até Roma:
a. Em Jerusalém (Caps. 1-6).
b. Por toda a Palestina (Caps. 7-10).
c. Até Antioquia (Caps. 11-13).
d. Até a Ásia Menor e a região da Galácia (Caps. 14-16).
e. Até a Europa (Caps. 17-20).
f.   Até Roma (Caps. 20-28).
Tudo isso implica na universalidade do cristianismo, bem como na aprovação divina ao mesmo, porquanto essa propaga­ção do evangelho, com os seus resultados positivos acompanhantes, não era obra de homens.
1.    Alvos apologéticos, segundo os apresentamos no primeiro parágrafo desta seção VII.
2.    Alvos teológicos, segundo são dados nos parágrafos mais acima, sob o título «Interesses teológicos».
Além dos propósitos históricos, apologéticos, poderíamos facilmente detectar ainda outros. Parece perfeitamente óbvio que o livro de Atos foi escrito, pelo menos em parte, para aumentar a autoridade do apóstolo Paulo no seio da igreja cristã. Então, por causa disso, o cristianismo passou a movimentar-se mais de acordo com as normas paulinas. A igreja cristã em geral, de fato, foi largamente dominada pela teologia paulina até o surgimento de Tomás de Aquino, o qual mediante a sua mistura de conceitos nitidamente cristãos com outros elementos (a filosofia de Tomás de Aquino foi proclamada como filosofia oficial da Igreja Católica Romana, pelo papa Leão XIII), enfraqueceu o caráter paulino da igreja. O autor sagrado do livro de Atos, pois, também mostra-nos como foi que o judaísmo gradualmente se tornou indigno de ser o guardião e o propagador da verdade de Deus, e como essa verdade passou para a posse da igreja cristã, que veio a tornar-se um corpo principalmente gentílico. Ora, isso prepara o am­biente para a mensagem das epístolas, tanto de Paulo como dos demais escritores do N.T., naqueles lugares onde o judaísmo se tomara ura opressor do cristianismo, e não seu genitor.

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