Data do Evangelho de Marcos


Certos cólofons , no fim de alguns manuscritos deste evangelho, querem fazer-nos crer que o livro foi escrito cerca de dez anos, mais ou menos, a partir da ascensão do Senhor Jesus, mas tais anotações se derivam da Idade Média, e não se revestem da menor autoridade. Alguns eruditos mais antigos (seguidos por alguns poucos conservadores, dos tempos modernos), datariam o livro tão cedo como 50 D.C. Aqueles que aceitam a teoria Marcos Pedro, como originadores do livro, datam-no em cerca de 64 a 67 D.C. Alguns supõem-no escrito após a destruição de Jerusalém (depois do ano 70 D.C.) acreditando que o capítulo décimo terceiro (o pequeno Apocalipse) desse evangelho apresenta um reflexo histórico dessa catástrofe, e não que seja um trecho profético. Porém, apesar de que provavelmente esse é o caso com os evangelhos de Mateus e Lucas (ambos escritos após o de Marcos, que se utilizaram dele como esboço histórico), o mais certo é que isso não se verifica com o evangelho de Marcos, posto que este capítulo, que encerra predições feitas pelo Senhor Jesus, parecem verdadeiras profecias. Não encontramos razão alguma pela qual Jesus não teria podido prever, com bastante detalhe, a destruição de Jerusalém, e essa passagem encerra uma das mais notáveis profecias a respeito do fato.
Josefo, o historiador judeu, informa-nos de que antes dessa ocorrência, muitos perceberam a sua aproximação, tanto entre os judeus como entre os cristãos, porquanto todos os grandes acontecimentos lançam longas sombras à sua frente e, com frequência, até mesmo homens comuns podem predizer acontecimentos futuros à base do conteúdo dessas sombras. Eusébio diz-nos que os cristãos, relembrando-se do conselho dado por Jesus, para fugirem -antes da chegada dos invasores, assim fizeram, refugiando-se em Pela, onde, como uma comunidade inteira, ficaram a salvo. (Quanto a notas sobre essas questões, , ver a «destruição de Jerusalém», em Mat. 24:2 no NTI). É óbvio, portanto, que essa profecia, sendo predição real e autêntica de Jesus, tendo sido registrada no livro de Marcos antes desse acontecimento (que ocorreu no ano 70 D.C.), requer que admitamos que esse evangelho foi escrito antes de 70 D.C., e que as datas 64 a 67 D.C. (que fazem vinculação com a teoria da origem Marco-Petrina) são datas relativamente exatas.
Há evidências recentes, todavia, que indicam uma data ainda mais antiga. Um erudito católico romano, papirologista, José 0’Callaghan,descobriu, entre o material dos Rolos do Maf Morto, um fragmento de 17 letras, que atravessa criticamente cinco linhas do texto, identificado como Marcos 6:52,53. Seu trabalho acerca disso foi impresso na publicação do Instituto Bíblico Pontifício em Roma, intitulado Bíblica. Além desse fragmento, O’Callaghan vinculou um fragmento de cinco letras com Marcos 4:28 e outro de sete letras com Tiago 1:23,24. Outras identificações prováveis incluem Atos 27:38; Mar. 12:17; Rom. 5:11,12; e as identificações possíveis incluem II Ped. 1:15 e Mar. 6:48. Os fragmentos achados foram escritos na forma escrita grega Zierstill, o que, segundo os paleógrafos, foi usada a grosso modo entre 50 A.C. e 50 D.C. Isso significaria que o evangelho de Marcos poderia ter sido escrito antes de 50 D.C., e certamente não foi escrito muito depois dessa data. Isso demonstra, naturalmente, que certamente se baseava em relatos de uma testemunha ocular, embora não tenha sido reduzido à forma escrita por aqueles mesmos que «viram» o que é descrito no livro. Alguns eruditos duvidam da validade dessas identificações. Com ou sem fesses fragmentos, e mesmo com um hiato maior de tempo entre os próprios eventos e suas descrições escritas, há toda razão para supor-se que os eventos foram bastante importantes para assegurar um registro essencialmente exato.

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