Como podemos estar certos a respeito de Jesus?


Na metade do século passado, o escritor britânico C. S. Lewis apresentou uma resposta chocantemente correta:
Um homem que foi simplesmente um homem e disse as coisas que Jesus disse não poderia ser considerado um grande mestre da moral. Ou ele foi um lunático — do mesmo nível do homem que disse ser um ovo poché — ou foi o Diabo do Inferno. Você pode considerá-lo tolo, pode cuspir nele e matá-lo como se fosse um demônio; ou prostrar-se a seus pés e chamá-lo Senhor e Deus. Mas não podemos vir com essas idéias tolas e complacen­tes de que ele foi um eminente mestre humano. Ele não deixou brecha para isso. Ele não teve essa intenção.

Em outras palavras, Jesus jamais será domesticado. Mas as pessoas ainda tentam domesticá-lo. Parece haver algo nesse ho­mem que se adapta a cada pessoa. Então, nós escolhemos uma de suas características que seja capaz de mostrar que ele está do nosso lado. Todo mundo sabe que é muito bom ter a companhia de Jesus, mas não a companhia do Jesus original, não-domesticado, não-adaptado. Apenas o Jesus revisado que se encaixa em nossa religião, plataforma política ou estilo de vida.
Quando eu cursava a universidade na Alemanha, na década de 1970, fiz a crítica literária de um livro chamado Jesus für Atheisten2. Você não precisa conhecer alemão para traduzi-lo. Foi uma “leitura” marxista da vida de Jesus. De acordo com aquele livro, a essência dos ensinamentos de Jesus não passou de um apelo para uma ação radical contra o regime da época. Foi um apelo para a derradeira devoção ao “reino” — a introdução da nova sociedade (marxismo).
Há um fato que me causa estranheza: dentre as pessoas que não aceitam Jesus como seu Senhor e Deus, quase ninguém fala mal dele. O mesmo se aplica à cruz: é bonito usá-la como jóia, mas ninguém deseja morrer numa cruz. As únicas cruzes que as pessoas desejam são as cruzes domesticadas. Faz sentido, portan­to, imaginar que um homem que, ao longo da vida, planejou morrer em uma cruz seria visto como uma pessoa perigosa; nin­guém lhe daria crédito.
Será que podemos conhecer Jesus como ele realmente foi — e é? Como podemos conhecer uma pessoa que viveu na terra dois mil anos atrás — alguém que afirmou ter ressuscitado dos mor­tos com vida indestrutível e vive até hoje? Algumas pessoas dizem que isso não é possível. O verdadeiro Jesus está sepulta­do na história, elas dizem, e não temos acesso a ele. Outras não são tão céticas. Acreditam nos registros bíblicos da vida de Je­sus e acham que seus intérpretes primitivos — como o apóstolo Paulo, por exemplo — são mais dignos de confiança que os crí­ticos da atualidade.
Mas como podemos ter certeza de que a descrição bíblica a respeito de Jesus é verdadeira? Há dois caminhos para aqueles que buscam um solo firme sob os pés da fé. Um é o caminho da pesquisa histórica e meticulosa para comprovar a autenticidade dos registros históricos. Eu segui esse caminho durante meus anos de estudo no seminário, na universidade e como professor de fa­culdade. Apesar de todos os desafios à minha fé naquela época, nunca duvidei de que existem bons motivos para confiarmos nos registros que o Novo Testamento traz acerca de Jesus. Hoje exis­tem muitos livros persuasivos — eruditos ou populares — que sustentam essa confiança.
Agora, porém, sou pastor, e não professor de faculdade. Conti­nuo a dar valor ao caminho da pesquisa histórica feita pelos estu­diosos. Na verdade, quase sempre sou favorável a ela. No entanto, hoje tenho mais consciência de que a grande maioria dos habi­tantes deste planeta jamais terá o tempo ou as ferramentas ne­cessárias para rastrear todas as evidências que comprovam os registros históricos do Novo Testamento. Se Jesus é o Filho de Deus, se ele morreu por nossos pecados e ressuscitou dentre os mortos, e se Deus desejou para seu povo, dois mil anos atrás, uma fé bem fundamentada, então deve haver outro caminho para co­nhecermos o verdadeiro Jesus — um caminho diferente da pesquisa histórica, acadêmica e rigorosa.
Existe outro caminho. E o caminho que estou seguindo neste livro. Começa com a convicção de que a verdade divina pode ser automaticamente legitimada. Aliás, seria muito estranho se Deus se tivesse revelado em seu Filho Jesus Cristo e inspirado o regis­tro dessa revelação na Bíblia, sem ter proporcionado um meio para que as pessoas comuns o conhecessem. Em palavras mais simples, o caminho comum para conhecermos o verdadeiro Je­sus é este: Jesus, conforme é revelado na Bíblia, traz consigo uma glória — uma beleza espiritual incomparável — que pode ser vista como uma verdade que por si só é evidenciada. E como ver o sol e saber que ele é luz, e não trevas, ou provar o mel e saber que ele é doce, e não amargo. Não existe nenhuma longa cadeia de motivos para passarmos das premissas às conclusões. Existe uma percepção direta de que a pessoa de Jesus é verdadei­ra e que sua glória é a glória de Deus.
O apóstolo Paulo descreveu o caminho para conhecermos a Jesus em 2Coríntios 4.4-6:
O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus [...]. Pois Deus, que disse: “Das trevas resplandeça a luz”, ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhe­cimento da glória de Deus na face de Cristo (grifos do autor).
Observe que Paulo fala da iluminação de Deus em nossos co­rações (como ocorreu na obra da criação) para compreendermos o. “conhecimento da glória de Deus na face de Cristo”. Ele está falando de pessoas que nunca viram o Jesus histórico. Como essas pessoas poderiam conhecê-lo e saber que ele existiu? O que elas “vêem” é a descrição verbal de Jesus no evangelho, isto é, na pregação apostólica de Cristo. Essa descrição, diz Paulo, acompa­nhada do brilho de Deus “em nossos corações”, nos mostra o que ela realmente é — “a glória de Deus na face de Cristo” ou “a glória de Cristo, que é a imagem de Deus”.
Você pode observar que existem duas coisas que tornam esse caminho possível. Uma é a realidade da glória de Jesus Cristo brilhando em sua descrição bíblica. A outra é a obra de Deus para fazer os corações cegos enxergarem sua glória. Isso é muito diferente de Deus “nos dizer” que a Bíblia é verdadeira. Ao con­trário, é Deus nos capacitando para enxergar o que existe real­mente na Bíblia. Trata-se de uma diferença muito importante. Se Deus tivesse sussurrado em nosso ouvido que o Jesus da Bíblia é verdadeiro, esse sussurro teria autoridade final e tudo depen­deria dele. Mas esse não é o caminho que vejo na Bíblia, nem o caminho que eu sigo. O próprio Jesus e sua representação pictó­rica divinamente inspirada na Bíblia têm a autoridade final.
O efeito prático desse caminho é este: Eu não lhe peço que ore por um sussurro especial de Deus para que você decida se Jesus é real. Eu lhe peço que olhe para o Jesus da Bíblia. Olhe para ele. Não feche os olhos esperando uma palavra de confirma­ção. Mantenha os olhos abertos e veja o retrato de Jesus descrito na Bíblia em toda a sua plenitude. Se você acredita em Jesus Cristo como Salvador e Deus, é porque vê nele uma glória divina e maravilhosa que simplesmente é o que é — verdadeira.
Às vezes, esse caminho é chamado “testemunho do Espírito Santo”. Os antigos catecismos fazem esta afirmação: “O Espíri­to de Deus, que testifica com as Escrituras e por meio delas no coração do homem, é suficientemente capaz de persuadi-lo de que a Bíblia é a Palavra de Deus”. Observe que o Espírito per­suade “com as Escrituras e por meio delas”. Ele não marginaliza as Escrituras, nem substitui as revelações particulares acerca das Escrituras. Ele remove a cegueira de hostilidade e rebelião e, por conseguinte, abre os olhos de nosso coração para enxergarmos o brilho evidente da divina beleza de Cristo.
Portanto, ao escrever este livro, meu objetivo foi exibir o retrato bíblico de Jesus. Não debati esse fato do ponto de vista histórico. Outras pessoas poderiam ter feito isso melhor do que eu, e aplaudo o trabalho delas. Tentei ser fiel ao que a Bíblia diz acerca de Jesus Cristo. Apesar de saber que, comparado às Escrituras, este livro é imperfeito, espero que a leitura de seus treze capítulos seja o mesmo que ver um diamante por meio de treze facetas diferentes. A Bíblia é a única descrição autorizada do diamante de Jesus Cristo. Espero que, depois de ler este livro, você passe a ler a Bíblia. Foi por isso que recheei estes curtos capítulos com trechos das Escrituras.
Espero também que este livro seja útil tanto a crentes como a não-crentes, oro para que ele seja utilizado por Deus para despertá-los, a fim de que vejam a grandeza e a glória de Jesus Cristo perpetuadas por ele. E oro para que este livro “adoce” a visão que os crentes têm da excelência de Cristo.
Só assim o seu título se tornará uma realidade. Quando ve­mos Jesus como ele realmente é, temos condições de prová-lo, isto é, de nos regozijarmos nele da mesma maneira que nos ale­gramos quando vemos algo verdadeiro, lindo e prazeroso. Este é o meu objetivo, porque duas coisas decorrem dessa experiência com Jesus Cristo: ele é honrado, e nós temos liberdade para percorrer alegremente o estreito caminho do amor. Cristo é plenamente glorificado em nós quando nos regozijamos nele. E quando nos regozijamos nele, somos crucificados para o mundo. Desta ma­neira, no momento em que vemos e provamos o Senhor Jesus, os reflexos de sua presença no mundo se multiplicam. O apóstolo Paulo disse: “E todos nós, que com a face descoberta contempla­mos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito” (2Co 3.18; grifos do autor). Contemplar é ser transformado.
Já que tudo isso, conforme Paulo diz, “vem do [...] Espírito”, incluí orações no fim de cada capítulo. A obra do Espírito em nossa vida é essencial. Jesus disse: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!” (Lc 11.13). Jun­to-me aos leitores sinceros para suplicar doses maiores e mais abundantes da obra do Espírito em nossa vida. Oro para que, quando olharmos para Jesus, ele nos conceda o privilégio de ver e provar a “glória de Deus na face de Cristo”.
Eu o convido a participar comigo desta busca, para encon­trarmos juntos a alegria bem fundamentada, duradoura e que gera amor. Tudo está em jogo. Nada é mais importante na vida que ver Jesus como ele realmente é e, acima de tudo, provar o que vemos.

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