É óbvio que Moisés não escreveu antecipadamente o relato de sua própria morte. Deuteronômio 34 é um obituário escrito por um contemporâneo dele, talvez Josué, filho de Num (v.9). Sob a orientação e inspiração do Espírito Santo, talvez ele tenha acrescido um adendo apropriado sobre a morte e sepultamento de seu senhor, redigindo a nota fúnebre eloquente com que o livro se encerra.
Que inferência podemos tirar disso? Porventura a inserção de um obituário no final da obra de um autor implica que ele não foi o verdadeiro escritor do texto principal desse livro? Tenho diante de mim o excelente volume Archaeology and the Dead Sea Scrolls, de Roland de Vaux. Trata-se de uma edição revista em inglês da Schweich Lectures, que ele pronunciou em Oxford em 1959, as quais foram publicadas pela Universidade de Oxford em 1973. No início, há um prólogo abreviado assinado por Kathleen Kenyon, que começa com as seguintes palavras: “Diz-se que Roland de Vaux não viveu o suficiente para ver o surgimento de sua obra Schweich Lectures“. Temos aqui, portanto, um tipo de nota obituária que se acrescentou ao texto principal da obra. Em finais de outros livros de autores famosos, o obituário aparece como último capítulo. Com freqüência, esse adendo nem sempre é assinado.
O mesmo ocorre com o Deuteronômio, a obra final composta por Moisés sob a inspiração de Deus. Assim como nenhum crítico literário pensaria sequer em impugnar a autenticidade da obra de Vaux, simplesmente porque traz um obituário inserido por Kenyon, da mesma forma não se deveriam levantar dúvidas quanto à autoria mosaica de Deuteronômio 1-33 — tampouco, na verdade, de qualquer livro do Pentateuco — simplesmente com base em um obituário que se encontra no capítulo 34.
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