Alguns estudiosos têm questionado a credibilidade dos números registrados nos dois recenseamentos apresentados em Números (1-4; 26). As áridas condições do deserto do Sinai dificilmente permitiriam que 600 mil homens adultos, mais suas esposas e filhos, sobrevivessem durante quarentas anos. Portanto, se as estatísticas concernentes ao número dos que eram capazes de fazer a guerra, relacionados às doze tribos, puderem ser aceitas como tendo valor histórico, deveríamos então de algum modo reduzir o total para uma quantidade menor, i.e, para menos de dois milhões, e chegar a uma aproximação dentro dos limites da razão, um número aceitável em face da lógica. Autores como G. Menenhall (jbl 77 [1958]: 52-66), John Bright (History of Israel [Filadélfia: Westminster, 1959], p. 144), e R. E. D. Clark (Journal of the Transactions of the Victoria Institute 87 [1955]: 82ss.) sugerem que se traduza o vocábulo hebraico para “mil” pela mera palavra “tribo”. R. K. Harrison (Old Testament introduction, p. 633), a despeito de sua atitude em geral conservadora, descrê da exatidão histórica desses números e sugere que eles talvez tenham apenas valor relativo, algo que estabeleça o tamanho comparativo de cada uma das tribos.
A palavra hebraica para “mil” é ’elep, que pode ter alguma conexão com o vocábulo que quer dizer “touro”. Conquanto não haja ocorrência clara de ’elep com o sentido de “família” ou “tribo”, em todas as Escrituras Sagradas, segundo Brown-Driver-Briggs (Lexicon, p.48, 49), o substantivo cognato ’allûpsignifica “chefe”, “comandante de tropas de mil”; e existem outras passagens em que a palavra poderia estar no plural, ’alāpîm com o sentido de “subdivisão de uma tribo” (cf. Koehler-Baumgartner. Lexicon, p. 57). Eis, uma base demasiado fraca sobre a qual não deveríamos colocar um peso tão grande como o da teoria que reduz os números; se nesses capítulos sobre recenseamentos de Números pudéssemos traduzir ’alāpîm por “complexo familiar” ou “tribo”, talvez o número total de homens em armas israelitas baixasse para cerca de trinta mil. Isso envolveria uma quantidade muito menor de bocas a serem alimentadas e de corpos sustentados durante tantos anos de peregrinação pelo deserto. É como o argumento se apresenta.
Há, todavia, algumas dificuldades fatais que corroem essa teoria. Em primeiro lugar, sempre acontece que logo depois da palavra (número) ’alāpîm menciona-se o vocábulo (número) mē’ôṯ (“centenas”), como a seguinte unidade menor; a seguir vêm as dezenas e as unidades, em ordem decrescente. Assim.o primeiro registro é o de adultos do sexo masculino da tribo de Rúben (Nm 1.21): šiššāh we’arbā‘îm ’elepwaḥa mēš mē’ôṯ (lit., “seis e quarenta mil e cinco centenas”). Exatamente por isso não há como fazer com que ’elap nesse número total possa ter o significado de 46 famílias e quinhentos. Está bem claro que a quantidade a qual o autor tem em mente é 46500. Que essa teria sido a intenção do escritor hebreu tem-se plena certeza por causa do total de “dinheiro de resgate” levantado entre a população masculina de Israel, de acordo com Êxodo 38.25: “… 100 talentos e 1.775 síc1os…” (nvi, nota de rodapé). Cada homem deveria contribuir com meio siclo; há 3.000 siclos, num talento. Portanto, 100 talentos, 1.775 siclos, significam exatamente 603.550 meios-shekels (representando o mesmo número de homens, de acordo com Números 2.32). Esse total é confirmado por Êxodo 12.37: “… cerca de seiscentos mil homens a pé…”. Por isso, não houve erro de tradução nem qualquer tropeço na comunicação.
A objeção de que os recursos naturais do Sinai jamais poderiam sustentar dois milhões de pessoas ou mais durante um período de quarenta anos de peregrinação pelo deserto não tem absolutamente valor. É um argumento que deixa de lado algo que o Pentateuco esclarece bem: Israel não recebeu seu alimento e bebida de fontes naturais da área do Sinai. Afirmam as Escrituras que essa multidão foi sustentada de maneira miraculosa, com maná do céu e água que saía da rocha — durante toda a jornada pelo deserto. O Deus que conduziu os israelitas sob a coluna de nuvem foi o mesmo que lhes supriu o alimento mediante uma intervenção sobrenatural. Sem esse recurso sobrenatural, trinta mil homens teriam morrido de fome e de sede nesse deserto, tão rapidamente quanto os seiscentos mil; é incrivelmente fútil desprezar o fator miraculoso, mediante a redução do número de pessoas.
Estamos tratando aqui da possibilidade do milagre. Eles são registrados desde o primeiro capítulo da Bíblia até o último. Sem a suprema manifestação do Verbo, que se encarnou em Jesus de Nazaré, não existe evangelho algum para ser pregado nem cruz alguma em que se deva crer. De fato, não há a mínima razão para nos preocuparmos com as Escrituras, de modo algum, se não crermos que suas pressuposições são milagrosas do começo ao fim. Se aqueles eventos miraculosos jamais aconteceram, a Bíblia é um livro indigno de confiança, não devemos acreditar nela; seria apenas outra amostra de especulação humana. Portanto, não se pode levantar uma objeção válida com base na natureza miraculosa de um episódio bíblico; e qualquer linha de argumentação ou de reinterpretação do texto sagrado que pressuponha a impossibilidade do milagre é mero exercício de futilidade.
A aceitação de uma quantidade superior a dois milhões de almas tem sido questionada por algumas autoridades, sob a alegação de que há um número espantosamente baixo de primogênitos no meio do povo israelita, conforme Números 3.42, 43: “E Moisés contou todos os primeiros filhos dos israelitas, conforme o Senhor lhe havia ordenado. O número total dos primeiros filhos do sexo masculino, de um mês de idade para cima, relacionados pelo nome, foi 22.273″. É óbvio que deve ter havido um número muito maior de primogênitos no meio da congregação israelita, se esta alcançasse seiscentos mil homens. Mas essa dificuldade desaparece quando o ambiente em que ocorreu o incidente é examinado com cuidado.
Aparentemente, era o segundo ano da jornada pelo deserto (cf. Nm 1.1), após estar terminado, o recenseamento das doze tribos e da de Levi, tendo o Senhor ordenado a Moisés que contasse todos os primogênitos entre os que não eram levitas e determinasse quantos deles havia. O propósito era calcular o volume da oferta que se levantaria para a obra do Senhor, para compensar o fato de os levitas representarem um pouco menos de 10% da população de Israel. Visto existirem 22 mil das outras tribos (v. 43), isso significava que uma oferta de 22.273 vezes por cinco siclos deveria ser apresentada para as despesas do tabernáculo. (Essa é, na verdade, a origem do chamado imposto do templo, que ainda hoje é pago pelos judeus em todo o mundo.)
Delitzsch (Keil e Delitzsch, Pentateuco, 3.9-13) salienta que essa exigência era aplicada apenas aos bebês nascidos após o começo do êxodo; não deve ter sido retroativo. Então, de um total de 603550 homens, deveria haver dentro de um ano, mais ou menos, cerca de 19 mil novos casamentos. Se no caso de alguns desses casais ocorressem duas gestações, o número provável de nascimentos de bebês do sexo masculino teria sido 22 mil ou um pouco mais. Essa quantidade concorda com o número de 22.273.
Outra base para o argumento em prol de uma população menor para os hebreus em Gósen é o registro de Êxodo 1.15, segundo o qual duas parteiras foram suficientes para atender a todos os casos de parto na comunidade. Essa observação é bastante válida. Muito mais que duas parteiras seriam necessárias para cuidar de uma população de mais de dois milhões de pessoas. E é certo que esse fato era tão óbvio para um autor do século viii a.C. (como o putativo “Eloísta”) como o é para nós. Duas parteiras teriam sido insuficientes para cuidar até mesmo de uma comunidade de trinta mil homens, mais suas esposas e filhos. É óbvio que Sifrá e Puá serviam na posição de superintendentes administrativas para supervisionar uma grande equipe obstétrica que atenderia a toda a comunidade israelita. É inconcebível que todo o corpo de parteiras reportasse diretamente ao rei; ao contrário, o faraó mantinha o controle de suas atividades mediante supervisoras aprovadas. Isso se coaduna com o que sabemos a respeito da estrutura altamente burocrática do governo egípcio antigo. Seus documentos referem-se a supervisores (o termo egípcio para supervisor era ìmy-r’ “aquele que é a boca” de seu empregador ou patrão) para praticamente todas as funções, profissões ou ofícios conhecidos na sociedade egípcia. Tinham a responsabilidade de reportar ao governador distrital em que serviam e dele receber ordens. Isso invalida completamente o argumento baseado no número pequeno de parteiras.
Outra dificuldade para se aceitar uma congregação israelita de mais de dois milhões deriva do grande tempo que teria sido necessário para uma multidão desse tamanho caminhar de um ponto a outro, numa longa viagem, como nos relata o Pentateuco. Por exemplo, como poderia uma imensa quantidade de pessoas atravessar a mar Vermelho (ou o “mar dos juncos”, como diz o hebraico) tão rapidamente como Êxodo 14.21-24 parece indicar? O vento do leste, muito árido, secou parcialmente o leito úmido do mar (depois de as águas terem sido miraculosamente afastadas para longe do ponto em que o povo atravessaria) durante uma noite inteira (v. 21); só depois disso, parece, os israelitas puderam atravessar o leito seco do mar.
Pode ter sido pela quarta vigília (i.e., entre três e seis horas) do dia seguinte que as carruagens egípcias começaram a cruzar aquele mesmo caminho em perseguição aos israelitas. Isso significa que os hebreus tiveram apenas 24 horas para realizar a travessia. Pareceria impossível, caso eles tivessem que se manter na faixa seca, pavimentada de alguma forma, para que nela pisassem. Mas nessa situação não poderia haver estradas ou caminhos pavimentados de tipo algum (que lógica haveria em uma estrada que conduzisse às águas do mar?); e eles precisavam prosseguir a jornada, por um terreno áspero, após levantarem aquele acampamento. A manobra se assemelharia à de um grande exército movimentando-se a fim de batalhar contra o inimigo: a linha de frente deveria estender-se por três ou quatro quilômetros, enquanto todos se moviam juntos, inclusive o gado. Com isso, teriam perdido poucas horas à espera, numa longa fila. A multidão movia-se para a frente, como um exército gigantesco que avançasse contra as linhas de combate. Se foi assim que o povo se movimentou, não houve problema de tempo.
A mesma observação se aplica às movimentações do dia-a-dia dos israelitas, ao longo dos quarenta anos de peregrinação. Se o povo se mantivesse alojado de modo compacto, numa única coluna, ao acampar à noite, seria preciso pouco tempo, algumas horas, para que quem estivesse no fim da fila começasse a movimentar-se para a frente. Sabemos, porém, por Números 2.3-31, que os israelitas acampavam em um quadrilátero, com três tribos a leste do tabernáculo, três ao sul, três a oeste e três ao norte. Assim, estavam distribuídos à semelhança de uma enorme força expedicionária composta de tropas no centro, na vanguarda e na retaguarda, além de duas asas laterais. Quando os soldados precisavam lutar, não era preciso muito tempo para chegar à linha de frente para o combate corpo a corpo. Não procuravam estradas pavimentadas, mas simplesmente prosseguiam ao longo do solo áspero e acidentado (se fosse necessário), preservando as fileiras com todo o cuidado. Não podiam encontrar estradas pavimentadas no caminho para o Sinai (a não ser a do rei, talvez), as quais só teriam sido utilizadas por veículos de rodas — de que os israelitas teriam uns poucos. Portanto, se o povo se pusesse em marcha simultaneamente após ter ouvido soar a trombeta, no início do dia, poderia cobrir com facilidade quinze quilômetros ou mais sem esforçar demais as crianças e o gado. Não havia necessidade de esperar em fila a vez de movimentar-se.
Tem-se ouvido muito a voz dos céticos, que criticam o texto sagrado e negam a historicidade de exércitos tão grandes como os que a história de Israel registra nos períodos subseqüentes. Por exemplo, na batalha de Maressa (2Cr 14.8-12), está escrito a respeito do rei Asa, de Judá, que enfrentou Zerá, o etíope, com 580 mil homens, contra um contingente inimigo de um milhão de soldados. Também, nos dias do rei Davi, as dez tribos contariam com 800 mil e Judá mais 500 mil, totalizando 1.300.000 homens em armas, no início do século x a.C. O rei Peca de Israel matou 120 mil soldados de Judá numa única batalha e aprisionou outros 200 mil, na época do rei Acaz (2Cr 28.6-8). Os estudiosos modernos tendem a lançar dúvidas sobre números tão grandes, achando que o cronista apreciava o exagero freqüente, em seu zelo de glorificar o passado de Israel.
Respondendo a essas acusações de irrealidade nas estatísticas, apresentamos as seguintes observações:
1. O autor, caso tivesse vivido algumas centenas de anos após os eventos que descreveu — e até mesmo se registrasse fatos contemporâneos — estaria em melhor posição quanto à certeza dos fatos que um cético moderno, que se encontra separado desses fatos por três mil anos ou mais.
2. Os critérios modernos de viabilidade ou inviabilidade de nada servem se tiverem como fundamento a certeza de que o inusitado nunca acontece.
3. As deduções com base em observações e experiências recentes podem conduzir a resultados completamente falsos. Não é certo presumir, pelas condições climáticas prevalecentes na Terra Santa a partir de 500 d.C, que a região nunca foi mais fértil e que tampouco poderia ter sustentado grandes populações em épocas mais remotas. Evidências geológicas e arqueológicas parecem indicar que os níveis de chuva flutuaram de modo extraordinário a partir do terceiro milênio a.C. O diário a respeito das condições do tempo, de Cláudio Ptolemeu, de Alexandria, no século i d.C, mostra que nessa época, a seca do verão era mais curta que hoje, com mais tempestades e trovões; o vento norte soprava mais durante o inverno que atualmente (cf. Denis Baly, Geography of the Bible, ed. rev., New York: Harper, 1974, p. 66-7). Há indícios de que de 4500 a 3500 a.C. prevaleceram condições de tempo seco e quente; de 3500 a 2300 a.C, houve um período mais frio e úmido; ter-se-iam seguido trezentos anos de seca (a migração de Abraão para o Egito seria testemunha disso). Pelos dois mil anos seguintes choveu, mas o incremento das atividades humanas teria obscurecido as evidências da verdadeira extensão da flutuação das condições climáticas de um século para outro (ibid., p. 68). Todavia, variáveis desse tipo indicam que a descrição freqüente da área como “terra que mana leite e mel” era bastante plausível, pois aponta para um nível de chuva maior no tempo de Moisés que no de Abraão. Quanto mais fértil e produtiva se torna uma área cultivável, maior a população que ela pode sustentar.
4. Outras fontes antigas atestam a existência de grandes exércitos, sempre que eram implementados projetos militares de magnitude especial. Os registros egípcios não são de muita valia a esse respeito, visto que salvo a inscrição da sexta dinastia de Uni (Pritchard, anet, p. 228), a qual declara que o rei Papi i enviou à Ásia uma força expedicionária formada de “muitas dezenas de milhares”, os faraós se limitavam a produzir listas de prisioneiros arrebatados dos exércitos inimigos. Até mesmo Tutmés iii, em seu relato da batalha do Megido (por volta de 1468 a.C), deixa de mencionar o tamanho dos exércitos em guerra (ibid., p. 235). Diga-se o mesmo a respeito de Rameseés ii, em seu auto-elogio no relatório da batalha de Cades, em que paralisou o avanço dos hititas na direção sul; ele simplesmente se refere a três divisões separadas do exército que se envolveram no conflito (ibid., p. 255, 6). No que concerne aos registros assírios, os reis aparentemente nunca se referem ao tamanho de suas próprias tropas, mas se limitam a enumerar a quantidade de inimigos mortos e de prisioneiros. No entanto, no relato da batalha de Carcar, em que lutou contra Ben-Hadade e Acabe, em 853 a.C, Salmaneser iii declara que Adadizri (nome que dá a Ben-Hadade) tinha 20 mil soldados de infantaria, 1.200 na cavalaria e 1.200 carruagens; Acabe tinha 10 mil soldados a pé e duas mil carruagens; o rei de Hamate contribuíra com 10 mil soldados de infantaria, setecentos de cavalaria e 700 carruagens (ibid., p. 278, 9). Além disso, havia vários contingentes de nove outros reis unidos contra os assírios em Carcar; Salmaneser afirma ter matado 14 mil inimigos e perseguido o resto. Em outra batalha, afirma ele ter matado 20.900 dos guerreiros de “Hadezer” (ibid., p. 280). Senaqueribe, em sua campanha de 701 a.C. contra Ezequias e seus aliados filisteus, afirma haver deportado 200.150 prisioneiros para a Assíria (ibid., p. 288). Seu pai, Sargão ii, tomou 27.290 prisioneiros de Samaria em 721 a.C. (ibid., p. 285). Não existem números referentes às tropas persas na inscrição da pedra Behistun, de Dario i (c.e 495 a.C).
Quanto aos historiadores gregos, Heródoto (História 7) declara que, quando Xerxes, rei da Pérsia, passou em revista suas tropas para a invasão da Grécia, “verifícou-se que o exército de infantaria se compunha de 1.700.000 soldados”. Chegou-se a esse total contando e separando grupos de 10 mil, até que todos houvessem sido enumerados. A força naval incluía 1.207 trirremes, e havia contingentes vindos do Egito, de Chipre, da Fenícia e de muitas outras áreas marítimas. Quanto aos grupamentos bélicos envolvidos nas campanhas de Alexandre, o Grande, a maior batalha em que ele se engajou foi, provavelmente, a de Gaugamela, em 331 a.C. Arriano calculou que a infantaria de Dario iii seria de cerca de um milhão de soldados, mais quarenta mil cavalarianos. Alexandre o derrotou com apenas quarenta mil soldados de infantaria e sete mil cavalarianos (Charles Anthon, A classical dictionary, containing an account of the principal proper names mentioned in ancient authors, New York, Harpers Bros., 1871, p. 107).
Mediante esses registros, sabemos que nem mesmo o exército de Zerá, o etíope, tinha um tamanho considerado incrível para uma grande força de invasão (cf. 2 Cr 14.9). A partir do número de prisioneiros deportados pelos assírios, deduzimos que havia uma quantidade elevada de habitantes na Palestina, nos séculos viii e vii a.C. Portanto, é erro fazer inferências a partir de restos arqueológicos — como têm feito alguns especialistas — que indicariam ter havido uma população escassa no Oriente Próximo nesse período. Uma descoberta muito interessante de escavações recentes em Ebla foi um jogo de tabletes com inscrições cuneiformes (publicada por G. Pettinato e P. Matthiae, em “Aspetti Amministrativi e Topografici di Ebla nel iii Millennio Av.Cr.”, Rivista degli studi orientali, 50 [1976]: 1-30), um dos quais relaciona os superintendentes e prefeitos das quatro maiores divisões dessa capital, em 2400 a.C. A partir desses dados, estima-se que a população de Ebla seria de cerca de 260 mil habitantes (cf. Heinrich von Siebenthal, Die kóniglichen Tontafelarchive von Tell Mardikh-Ebla n. 38, trad. para o francês por Suzanne Ruckstuhl, aparecendo como quadro 4, em G. Archer, Introduction à l’Ancien Testament, Ed. Emmaus [Suíça: St. Legier, 1978], p. 570-85; cf. também G. Pettinato, “The royal archives of Tell Mardikh-Ebla”, Biblical Archeologist, 39 [2, 1976]; 44-52). Isso faz com que seja aceitável a população estimada de Nínive, nos dias de Jonas, “de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da mão esquerda…” (Jn 4.11) — i.e., crianças e bebês. Isso indicaria um número total de quase um milhão de habitantes só na Grande Nínive.
Tais referências a populações numerosas aparentemente removem toda a base em que o ceticismo se apóia para forjar suas críticas e questionar a exatidão dos números do at. Ao mesmo tempo, é digno de nota que os registros históricos hebreus parecem quase singulares, comparados com a literatura antiga do Oriente Próximo, ao fornecer o número de soldados envolvidos nas várias invasões e batalhas registradas do at. E, diga-se de passagem, é um tanto difícil fazer uma comparação bem documentada entre os registros israelitas e os demais, acerca dos soldados engajados em batalhas ou computados em recenseamentos internos, visto não existirem relatórios semelhantes oriundos de fontes pagãs relativos aos mesmos períodos.
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