A Unidade de Deus


Distingue-se entre as unitas singularitatis e a unitas simplicitatis.

1. UNITAS SINGULARITATIS. Este atributo salienta a unidade e a unicidade de Deus, o fato
de que Ele é numericamente um e que, como tal, Ele é único. Implica que existe somente um Ser
Divino, que, pela natureza do caso, só pode existir apenas um, e que todos os outros seres têm
sua existência dele, por meio dele e para Ele. Em várias passagens a Bíblia nos ensina que existe
somente um Deus verdadeiro. Salomão pleiteou com Deus que defendesse a causa do Seu povo,
“para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro”. 1. Rs 8.60.

E Paulo escreve aos coríntios: “todavia, para nós há um só Deus, o pai, de quem são todas as
cousas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as cousas, e
nós também por ele”, 1 Co 8.6. Semelhantemente, escreve a Timóteo, “porquanto há um só Deus
e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”, 1 Tm 2.5. Outras passagens
salientam, não a unidade numérica de Deus, mas a sua unicidade. É o caso das bem conhecidas
palavras de Dt 6.4, “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. A palavra hebraica
‘echad, traduzida por “um” (na versão inglesa utilizada pelo Autor) também pode ser traduzida por
“somente um” (único, como na Versão de Almeida), o equivalente do termo alemão “einig” e do
holandês “eenig”. E esta é uma tradução melhor, ao que parece. Keil acentua o fato de que esta
passagem não ensina a unidade numérica de Deus, mas, sim, que Jeová é o único Deus que faz
jus ao nome Jeová. Também é este o sentido do vocábulo em Zc 14.9. A mesma idéia é
lindamente expressa na interrogação retórica de Êx 15.11, “Ó Senhor, quem é como tu entre os
deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas
maravilhas?” Isto exclui todos os conceitos politeístas de Deus.

2. UNITAS SIMPLICITATIS. Embora a unidade discutida no item anterior distinga a Deus dos
demais seres, a perfeição agora em foco expressa a unidade interior e qualitativa do Ser Divino.
Quando falamos da simplicidade de Deus, empregamos o termo para descrever o estado ou
qualidade que consiste em ser simples, a condição de estar livre de divisão em partes e, portanto,
de composição. Quer dizer que Deus não é composto e não é suscetível de divisão em nenhum
sentido da palavra. Isto implica, entre outras coisas, que as três pessoas da Divindade não são
outras tantas partes das quais se compõe a essência divina, que não há distinção entre a
essência e as perfeições de Deus, e que os atributos não são adicionados à Sua essência. Desde
que aqueles e esta são uma só coisa, a Bíblia pode falar de Deus como luz e vida, como justiça e
amor, identificando-o assim com as Suas perfeições. A simplicidade de Deus segue-se de
algumas de Suas outras perfeições: de Sua auto-existência, que exclui a idéia de que alguma
coisa O precedeu, como no caso dos compostos; e de Sua imutabilidade, que não poderia ser um
predicado da Sua natureza, se sta fosse feita de partes. Esta perfeição foi discutida durante a
Idade Média, e foi negada pelos socinianos e arminianos. A Escritura não afirma explicitamente,
mas ela está implícita onde a Bíblia fala de Deus como justiça, verdade, sabedoria, luz, vida,
amor, etc. e, assim, indica que cada uma destas propriedades, devido à sua perfeição absoluta, é
idêntica ao Seu Ser. Nas recentes obras teológicas a simplicidade de Deus raramente é
mencionada. Muitos teólogos positivamente a negam, quer por ser considerada como pura
abstração metafísica, quer porque, na opinião deles, ela entra em conflito com a doutrina da
Trindade. Dabney crê que não há composição na substância de Deus, mas nega que nele a
substância e os atributos sejam uma e a mesma coisa. Ele defende a idéia de que, neste sentido,
Deus não é mais simples que os espíritos finitos.