Dados Bíblicos a Respeito da Imagem de Deus no Homem


Os ensinamentos da Escritura a respeito da imagem de Deus no homem dão base para as seguintes afirmações:
fundamento algum. Enquanto que o primeiro sentido da preposição hebraica be (traduzida aqui por "à”) é indubitavelmente "em”, evidentemente pode ter também o mesmo sentido da preposição le (aqui traduzida por "conforme”), e é evidente que tem esse sentido aqui. Observe-se que se diz que somos renovados ou refeitos "segundo a imagem” de Deus, em Cl 3.10; e também que as preposições empregadas em Gn 1.26 ao invertidas em Gn 5.3.
2.    A imagem de Deus segundo a qual o homem foi criado, certamente inclui o que geralmente se denomina "justiça original”, ou mais especificamente, verdadeiro conhecimento, justiça a santidade. Diz-nos a Bíblia que Deus fez o homem muito bem, Gn 1.31 ("muito bom”) e "reto”, Ec 7.29. O Novo Testamento indica muito especificamente a natureza da condição original do homem onde fala do homem sendo refeito em Cristo, isto é, como sendo levado de volta a uma condição anterior. É evidente que a condição à qual ele é restaurado em Cristo não é de neutralidade, nem boa nem má, na qual a vontade esta num estado de perfeito equilíbrio, mas, sim, um estado de verdadeiro conhecimento, Cl 3.10, justiça e santidade, Ef 4.24. Estes três elementos constituem a justiça original perdida por causa do pecado, mas reconquista em Cristo. Pode-se-lhe chamar imagem moral de Deus, ou imagem de Deus no sentido mais restrito da palavra. A criação do homem segundo esta imagem moral implica que a condição original do homem era de santidade positiva, e não um estado de inocência ou de neutralidade moral.
3.    Mas não se deve restringir a imagem de Deus ao conhecimento, à justiça e à santidade originais, perdidos devido ao pecado; ela inclui também elementos que pertencem à constituição natural do homem. São elementos que pertencem ao homem como tal, como as faculdades intelectuais, os sentimentos naturais e a liberdade moral. Como um ser cria do à imagem de Deus, o homem tem uma natureza racional e moral, que não perdeu com o pecado e que não poderia perder sem deixar de ser o homem. Esta parte da imagem de Deus de fato foi corrompida pelo pecado, mas ainda permanece no homem, mesmo depois de sua queda no pecado. Note-se que o homem, mesmo após a queda, independentemente da sua condição espiritual, é apresentado como imagem de Deus, Gn 9.6; 1 Co 11.7; Tg 3.9. Deve-se a atrocidade do crime de homicídio ao fato de que é uma agressão à imagem de Deus. À luz destas passagens da Escritura, não há base para dizer que o homem perdeu completamente a imagem de Deus.
levantar a questão se o corpo do homem também constitui uma parte da imagem. E, ao que parece, está questão deve ser respondida afirmativamente. Diz a Bíblia que o homem - não apenas a alma do homem - foi criado à imagem de Deus, e o homem, a "alma vivente”, não é completo sem o corpo. Alem disso, a Bíblia apresenta o assassínio como destruição do corpo, Mt 10.28, e também como destruição da imagem de Deus no homem, Gn 9.6. Não precisamos procurar a imagem na substância material do corpo; acha-se ela, antes, no corpo visto como o instrumento próprio para auto-expressão da alma. Mesmo o corpo está destinado a tornar-se no fim um corpo espiritual, isto é, um corpo totalmente dominado pelo espírito, um instrumento perfeito da alma.
5.    Outro elemento da imagem de Deus ainda, é a imortalidade. Diz a Bíblia que só Deus tem imortalidade, 1 Tm 6.16, e isto pareceria excluir a idéia da imoralidade humana. Mas é mais que evidente, pela Escritura, que o homem também é imortal, nalgum sentido da palavra. O sentido é que somente Deus tem imortalidade como uma qualidade essencial, tem-na em Si e de Si próprio, ao passo que a imortalidade do homem é uma dádiva, é derivada de Deus. O homem foi criado imortal ano apenas no sentido de que sua alma foi dotada de uma existência interminável, mas também no sentido de que ele não levava dentro de si as sementes da morte física, e em sua condição não estava sujeito à lei da morte. Foi feita a ameaça da morte como punição do pecado, Gn 2.17, e que isso incluía a morte corporal ou física, está patente em Gn 3.9. Paulo nos fala que o pecado trouxe a morte ao mundo, Rm 5.12; 1 Co 15.20, 21, e que morte deve ser considerada como o salário do pecado, Rm 6.23.
da alma, e o ultimo, às faculdades morais. Belarmino considerava a palavra “imagem” como um designativo dos dons naturais do homem, e a palavra “semelhança” como uma descrição daquilo que foi acrescentado sobrenaturalmente ao homem. Ainda outros afirmavam que “imagem” indica a conformidade inata com Deus, e “semelhança”, a adquirida. É muito mais provável, porem, como foi exposto na seção anterior, que ambas as palavras expressem a mesma idéia, e que “semelhança” seja apenas um acréscimo epizegético para designar a imagem como sumamente parecida ou muito semelhante. A idéia expressa pelas duas palavras é a da própria imagem de Deus. A doutrina da imagem de Deus no homem é da maior importância na teologia, pois essa imagem é a expressão daquilo que é mais distinto no homem e em sua relação com Deus. O fato de ser o homem imagem de Deus distingue-o dos animais e de todas as outras criaturas. Quando podemos saber da Escritura, até mesmo os anjos não compartem com os homens essa honra, embora às vezes o assunto seja apresentado como se compartissem. Calvino chega a dizer que “não se pode negar que os anjos também foram criados à semelhança de Deus visto que, como Cristo declara (Mt 22.30), a nossa perfeição suprema consiste em sermos semelhantes a eles”.11 Mas nessa declaração o grande reformador não leva devidamente em conta o ponto especifico da comparação presente na afirmação de Jesus. Em muitos casos, a suposição de que os anjos também foram criados à imagem de Deus resulta de uma concepção da imagem que a limita às nossas qualidades morais e intelectuais. Mas a imagem inclui também o corpo do homem e seu domínio sobre a criação inferior. Os anjos jamais são apresentados como da criação, mas como espíritos ministradores enviados para servir aos herdeiros da salvação. As mais importantes concepções da imagem de Deus no homem são as que damos a seguir.
sede da imagem de Deus está na alma, embora alguns raios da sua glória brilhem também no corpo. Acha ele que a imagem consistia especialmente naquela integridade original da natureza do homem, perdida por causa do pecado, integridade que se revela no verdadeiro conhecimento, justiça e santidade. Ao mesmo tempo ele acrescenta "que a imagem de Deus abrange tudo que na natureza do homem sobrepuja a de todas as outras espécies de animais”.1 Esta concepção mais ampla da imagem de Deus veio a ser a predominante na teologia reformada (calvinista). Daí dizer Witsius: "A imagem de Deus consistia antecedenter, na natureza espiritual e imortal do homem; formaliter, em sua santidade; consequenter, em seu domínio”.12 Opinião muito semelhante é expressa por Turretino.13 Em resumo, pode-se dizer que a imagem de Deus consiste (a) Da alma ou do espírito do homem, isto é, das qualidades de simplicidade, espiritualidade, invisibilidade e imortalidade. (b) Dos poderes ou faculdades psíquicas do homem como um ser racional e moral, a saber, o intelecto e a vontade com as suas funções. (c) Da integridade moral e intelectual da natureza do homem, que se revela no verdadeiro conhecimento, justiça e santidade, Ef 4.24; Cl 3.10. (d) Do corpo, não como substância material, mas como o apto órgão da alma, e que participa da imortalidade desta; e como o instrumento por meio do qual o homem pode exercer domínio sobre a criação inferior. (e) Do domínio do homem sobre a terra. Contrariamente aos socianinos, alguns eruditos reformados foram longe demais na direção oposta, quando consideraram esse domínio com uma coisa não pertencente de modo algum à imagem, mas sim, como o resultado de uma concessão especial de Deus. Em conexão com a questão, se a imagem de Deus pertence à essência do homem propriamente dita, a teologia reformada não hesitou em dizer que ela constitui a essência do homem. Todavia, ela distingue entre os elementos da imagem de Deus que o homem não pode perder sem deixar de ser homem, elementos que consistem das qualidades e poderes da alma humana, e aqueles elementos que o homem pode perder e continuar sendo homem, a saber, as boas qualidades éticas da alma e seus poderes. Neste sentido restrito, a imagem de Deus é idêntica ao que se chama justiça original. É a perfeição moral da imagem que podia ser perdida por causa do pecado, e foi.
com o que ambos têm em comum, sua diferença é de pequena importância. Por meio do pecado, o homem perdeu inteiramente a imagem de Deus, e o que agora o distingue dos animais tem muito pouca significação religiosa ou teológica. A grande diferença entre aquele e estes está na imagem de Deus, e esta o homem perdeu inteiramente. Em vista disso, também é natural que os luteranos adotem o traducionismo, e assim ensinem que a alma do homem origina-se como a dos animais, isto é, pela procriação. Isso também explica o fato de que os luteranos dificilmente reconhecem a unidade moral da raça humana, mas acentuam enfaticamente a sua unidade física, e a reprodução exclusivamente física do pecado. Barth aproxima-se mais da posição luterana que a da reformada quando busca a imagem de Deus num "ponto de contato” entre Deus e o homem, numa certa conformidade com Deus, e depois afirma que isto não somente foi arruinado, mas até mesmo aniquilado pelo pecado.1
3.    O CONCEITO CATÓLICO ROMANO. Os católicos romanos não concordam totalmente em sua concepção da imagem de Deus. Limitamo-nos aqui a uma exposição do conceito predominante entre eles. Eles sustentam que, quando da criação, Deus dotou o homem de certos dons naturais, como a espiritualidade da alma, a liberdade da vontade e a imortalidade do corpo. A espiritualidade, a liberdade e a imortalidade são dos naturais e, como tais, constituem a imagem natural de Deus. Além disso, Deus "temperou” (ajustou) os poderes naturais uns junto aos outros, colocando os inferiores na devida subordinação aos superiores. A harmonia assim estabelecida é chamada justitia - justiça natural. Mas, mesmo assim, permaneceu no homem a tendência natural dos apetites e paixões inferiores de rebelar-se contra a autoridade dos poderes superiores da razão e da consciência. Essa tendência, chamada concupiscência, não é pecado em si mesma, mas passa a ser pecado quando recebe o consentimento da vontade e passa à ação voluntária. A fim de capacitar o homem a manter sob controle a sua natureza inferior, Deus acrescenta aos dons naturais (dona naturalia) certos dons sobrenaturais (dona supernaturalia). Estes incluíam o dom acrescentado (donum superadditum) da justiça original (a sobrenatural semelhança com Deus), dado por acréscimo como um dom alheio à constituição original do homem, seja imediatamente ao tempo da criação, ou nalgum ponto posterior, como recompensa pelo uso apropriado dos poderes naturais. Estes dons sobrenaturais, o donum superadditum da justiça original inclusive, foram perdidos devido ao pecado, mas a sua perda não rompeu a natureza essencial do homem.

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