Prova Bíblica da Existência de Deus


Para nós a existência de Deus é a grande pressuposição da teologia. Não há sentido em
falar-se do conhecimento de Deus, se não se admite que Deus existe. A pressuposição da
teologia cristã é um tipo muito definido. A suposição não é apenas de que há alguma coisa,
alguma idéia ou ideal, algum poder ou tendência com propósito, a que se possa aplicar o nome de
Deus, mas que há um ser pessoal auto-consciente, auto-existente, que é a origem de todas as
coisas e que transcende a criação inteira, mas ao mesmo tempo é imanente em cada parte da
criação. Pode-se levantar a questão se esta suposição é razoável, questão que pode ser
respondida na afirmativa. Não significa, contudo, que a existência de Deus é passível de uma
demonstração lógica que não deixa lugar nenhum para dúvida; mas significa, sim, que, embora
verdade da existência de Deus seja aceita pela fé, esta fé, se baseia numa informação confiável.
Embora a teologia reformada considere a existência de Deus como pressuposição inteiramente
razoável, não se arroga a capacidade de demonstrar isto por meio de uma argumentação
racional. Dr. Kuyper fala como segue da tentativa de fazê-lo: “A tentativa de provar a existência de
Deus ou é inútil ou é um fracasso. É inútil se o pesquisador acredita que Deus recompensa
aqueles que O procuram. É um fracasso se se trata de uma tentativa de forçar, mediante
argumentação, ao reconhecimento, num sentido lógico, uma pessoa que não tem esta pistis”.

O Cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé. Mas esta fé não é uma fé cega,
mas fé baseada em provas, e as provas se acham, primariamente, na Escritura como a Palavra
de Deus inspirada, e, secundariamente, na revelação de Deus na natureza. A prova bíblica sobre
este ponto não nos vem na forma de uma declaração explícita, e muito menos na forma de um
argumento lógico. Nesse sentido a Bíblia não prova a existência de Deus. O que mais se
aproxima de uma declaração talvez seja o que lemos em Hebreus 11:6 “... é necessário que
aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o
buscam”. A Bíblia pressupõe a existência de Deus em sua declaração inicial, “No principio criou
Deus os céus e a terra”. Ela não somente descreve a Deus como o Criador de todas as coisas,
mas também como o Sustentador de todas as Suas criaturas. E como o Governador de indivíduos
e nações. Ela testifica o fato de que Deus opera todas as coisas de acordo com o conselho da
Sua vontade, e revela a gradativa realização do Seu grandioso propósito de redenção. O preparo
para esta obra, especialmente na escolha e direção do povo de Israel na velha aliança, vê-se
claramente no Velho Testamento, e a sua culminação inicial na Pessoa e Obra de Cristo ergue-se
com grande clareza nas páginas do Novo testamento. Vê-se Deus em quase todas as páginas da
Escritura Sagrada em que Ele se revela em palavras e atos. Esta revelação de Deus constitui a
base da nossa fé na existência de Deus, e a torna uma fé inteiramente razoável. Deve-se notar,
contudo, que é somente pela fé que aceitamos a revelação de Deus e que obtemos uma real
compreensão do seu conteúdo. Disse Jesus, “Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a
respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo”, João 7.17. É este
conhecimento intensivo, resultante de íntima comunhão com Deus, que Oséias tem em mente
quando diz, “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor”, Oséias 6.3. O incrédulo não
tem nenhuma real compreensão da palavra de Deus. As palavras de Paulo são pertinentes nesta
conexão: “Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o inquiridor deste século? Porventura não
tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o
conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem, pela loucura da
pregação”, 1 Coríntios 1.20, 21.