Conceitos e Métodos de Interpretação


O livro de Apocalipse tem sido estudado segundo muitos conceitos e métodos de interpretação diferen­tes. Abaixo mostramos os principais dentre esses:
1.    O ponto de vista preterista. Esse ponto de vista dá a entender que todas as ocorrências aludidas no livro de Apocalipse tiveram lugar no império romano, no primeiro século de nossa era, embora talvez haja acontecimentos referentes ao segundo século. Os eruditos liberais normalmente tomam esse ponto de vista em geral, porquanto supõem que o livro não pode ser uma profecia genuína, mas tão-somente um escrito simbólico e uma avaliação mística dos acontecimentos daquela porção do mundo para onde o livro foi originalmente enviado. Alguns estudiosos católicos romanos também favorecem esse ponto de vista, talvez porque impossibilita a interpretação protestante, que faz do papa o anticristo, além de negar a ideia de que a Igreja Católica Romana seja representada por Babilónia. Esse ponto de vista, apesar de preservar sem dúvida alguma verdade, pois certamente o livro reflete alguns acontecimentos «contemporâneos», no entanto não leva em conta que se trata de uma «profecia», e que esta contempla o tempo futuro da segunda vinda de Cristo, sem importar se isso ocorreria imediatamente ou não, e sem importar nossa ideia sobre o seu cumprimento dentro do tempo.
2.    O ponto de vista histórico. Os intérpretes que assumem essa posição procuram encaixar todos os acontecimentos previstos no Apocalipse em várias épocas da história humana. A série de «sete» (selos, trombetas, taças e anjos) supostamente representaria sucessivos estágios da história da humanidade, até à volta de Cristo, o que dará fim ao presente ciclo geral. Naturalmente, os que assim pensam não têm podido concordar entre si sobre quais visões representam estes ou aqueles acontecimentos históricos, e muitas identificações fantásticas, de homens e eventos, no tocante às predições, têm aparecido na literatura que defende esse ponto de vista. O ponto de vista puramente histórico do livro de Apocalipse deixa-o uma obra essencialmente fechada e misteriosa.
3.    O ponto de vista futurista. Há os «futuristas extremos», que pensam que o livro inteiro é preditivo, incluindo os capítulos dois e três (as cartas às sete igrejas), que representariam sucessivos estágios da história eclesiástica, até à vinda de Cristo. Mas há os «futuristas moderados», que admitem que os capítulos dois e três referem-se ao passado (ou ao presente); mas que a começar no quarto capítulo temos o futuro, o que deverá ocorrer imediatamente antes do segundo advento de Cristo. Isso faz este livro ser, essencial­mente, uma profecia, levando em conta, a sério, as declarações de Apo. 1:19 e 4:1. A principal objeção contra esse ponto de vista é que remove do livro qualquer contexto histórico. Mas isso é respondido pela observação que apesar de refletir o tempo e os acontecimentos contemporâneos, em um sentido secundário, a verdade é que, em sentido «primário», o livro reflete os «últimos dias». Portanto, este livro tanto é orientado historicamente como é escatologica- mente importante; mas a ênfase recai sobre este último fator. Os futuristas que falam desse modo tornam-se um tanto «ecléticos» em seus pontos de vista, mas sua ênfase recai sobre o futuro, e não sobre o passado. Os liberais, a quem falta a fé na possibilidade de um livro como o de Apocalipse ser uma profecia genuína, ou que duvidam que tal profecia possa abarcar tão grande expansão de tempo, fazem objeção ao ponto de vista futurista.
O presente artigo assume, essencialmente, o ponto de vista futurista, ao asseverar que esse livro, tal como alguns livros do V.T. é essencialmente uma profecia, e, de fato, o único livro totalmente profético do N.T. Certamente o N.T. deve contar com um livro assim, que vise dirigir, orientar e consolar aos crentes (e ao povo de Israel), quando se encontrarem em meio aos horrendos acontecimentos descritos nesse livro. Esse é o livro neotestamentârio que veio à existência com esse propósito, a fim de informar-nos, com detalhes, como Cristo tomará as rédeas do governo deste mundo, como as forças do mal serão derrotadas, e como o estado eterno substituirá, por fim, os ciclos terrestres. O autor desta enciclopédia, outrossim, crê que profetas e místicos contemporâneos têm pronun­ciado e estão proferindo predições que são paralelas às do livro de Apocalipse. Ao compararmos essas predições, vemos que a maior parte do livro de Apocalipse pode ser focalizada no futuro, nos «últimos dias», o tempo imediatamente antes do longamente previsto segundo advento de Cristo. O livro de Apocalipse, pois, tornar-se-á progressivamen­te melhor compreendido quando mais próximo estiverem os eventos preditos. Os acontecimentos de maior vulto (como também os secundários) lançam suas sombras antes mesmo de chegarem em cena. Ora, as sombras daqueles horrendos acontecimentos preditos no livro de Apocalipse, já estão entre nós; e este artigo defende a «especulação» que certamente, antes de 2035, terão lugar os acontecimentos preditos no Apocalipse. O leitor deveria consultar o artigo intitulado «Tradição Profética e a Nossa Época». Se porventura o leitor considerar extravagantes esses pontos de vista, então que o futuro imediato os confirme ou condene. Que o leitor leia para considerar e não para condenar.
4.    A interpretação simbólica ou mística. Alguns eruditos creem que o livro de Apocalipse não é essencialmente profético e nem histórico, mas é uma vivida coletânea de símbolos místicos, que visam ensinar lições espirituais e morais. Isso significa que não esperamos qualquer cronologia de acontecimen­tos passados ou futuros nesse livro. Tais acontecimen­tos seriam puramente espirituais, podendo «aconte­cer» em qualquer período histórico. Naturalmente, muito há no livro de Apocalipse que pode ser visto como «misticamente instrutivo»; mas isso não pode explicar sua mensagem geral. Ele assevera ser uma profecia, e certamente assim sucede.
5.    O ponto de vista eclético. Alguns intérpretes «misturam» todas as ideias expostas acima, de modo que nenhuma domine — as demais. Não há dúvida que devemos preservar «alguns elementos» de cada um desses pontos de vista sobre o livro de Apocalipse, em um grau ou outro. Os eventos que já sucederam, e que eram contemporâneos aos dias do autor sagrado, estão em vista, embora talvez não estejam primaria­mente em foco (dentro do intuito do Espírito Santo, à parte do intuito do próprio autor sagrado). Porções do Apocalipse podem subentender ou descrever partes da sucessão de eventos da história humana (como é o caso das cartas às igrejas, nos capítulos segundo e terceiro), e muitos outros acontecimentos históricos refletem, pelo menos em parte, as descrições feitas. O livro ensina-nos lições morais e místicas, aplicáveis a qualquer época. Contudo, certamente erraremos se não contemplarmos o livro de Apocalipse como obra «essencialmente» profética, e de primeira ordem. Dentre todas as gerações, a nossa e mais uma ou duas, são as que precisam mais desesperadamente da mensagem deste livro. A igreja cristã deve compreender que nos aproximamos do mais aterrorizante tempo de purificação. A igreja presente é incapaz de «voar» ou «subir». Os eventos preditos neste livro prepararão a igreja para ir ao encontro de Cristo e de Deus.

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