Como pode a lepra afetar o vestuário (Lv 13.47-59) ou as paredes de uma casa (Lv 14.33-57)?


A doença comumente chamada “lepra” hoje é conhecida como mal de Hansen. Mas o termo hebraicoṣāra‘aṯ é muito mais genérico: especifica qualquer tipo de doença ou alteração patológica da pele. Muitos dos tipos descritos em Levítico 13.2-42 mostram sintomas próprios do mal de Hansen, como manchas brancas e áreas infectadas no couro cabeludo. O versículo 6 refere-se a um tipo de doença que, segundo se sabia, podia apresentar melhoras espontâneas dentro de uma semana, pelo menos em alguns casos (o que não é verdade a respeito do mal de Hansen). Os versículos 7 e 8 parecem referir-se a uma úlcera com gangrena; o versículo 24 faz menção a uma infecção numa área queimada da pele. O versículo 30 diz respeito ao couro cabeludo, em geral, quando apresenta descamação, que parece tratar-se de psoríase.

Dos dados acima, pode-se concluir legitimamente que ṣāra‘aṯ não se refere a nenhum tipo particular de doença da pele (embora a enfermidade de Naamã com toda a certeza era algo relacionado ao mal de Hansen [2Rs 5]; da mesma forma o mal que afligiu Azarias, atacado pela lepra no templo [2Rs 15.5; 2Cr 26.19, 20]); antes, trata-se de um termo de ampla significação, que cobre todos os tipos de doenças e alterações estranhas da pele ou do couro cabeludo.
Em Levítico 13.47, 59, a Escritura refere-se a ṣāra‘aṯ num vestuário ou em qualquer tipo de roupa. É óbvio que nesse caso não pode haver relação com nenhum tipo de doença que ataque a pele humana. Trata-se de uma modalidade de fungo, ou bolor, que se aloja no tecido numa peça de couro de animal. Por causa de sua tendência para espalhar-se mediante contato e à vista dos terríveis efeitos desfigurantes, esse tipo de ṣāra‘aṯ precisava de uma quarentena, até que se verificasse se podia ser eliminado por lavagem e esfregação. Se tais medidas não dessem certo, o tecido afetado deveria ser queimado.
Quanto a Levítico 14.33-57, o tipo de ṣāra‘aṯ que ataca as paredes da casa aparentemente é outra modalidade de fungo, ou de bactéria, ou de mofo que ocasionalmente aparece em paredes de adobe e até em madeira, quando a umidade é bastante elevada, durante muito tempo, em temperaturas favoráveis à disseminação do bolor. Visto que esse fungo pode se espalhar rapidamente e arruinar a aparência do cômodo inteiro, sendo talvez veículo de outros tipos de doença, era necessário cuidar do problema o quanto antes. As áreas afetadas deveriam ser esfregadas, raspadas e lavadas cuidadosamente, para que se verificasse se o mofo poderia ser eliminado dessa forma. Se o bolor tivesse penetrado num determinado tijolo da parede, esse deveria ser removido e destruído. Isso impedia que os adjacentes ficassem contaminados. Todavia, se tais métodos não surtissem efeito, a casa toda deveria ser destruída.
Em geral, dispensava-se um período razoável de espera antes de se destruir uma casa contaminada, talvez uma semana ou duas, quando então um sacerdote fazia uma inspeção. O mesmo procedimento era seguido com respeito à “lepra” na roupa ou na pele humana. Faziam-se análises no final da primeira ou da segunda semana com o propósito de verificar se a infecção havia cedido ou se continuava a expandir-se. Em todos os três casos de lepra (ṣāra‘aṯ), exigia-se um rito de purificação, descrito com algumas minúcias em Levítico 13 e 14.

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